segunda-feira, setembro 22, 2003

Pachec-sic

Foi gratificante ver um homem quase todo cão, como eu, a discorrer sobre questões blogueiras. Grande Pacheco (era a Hermínia Silva que gritava qualquer coisa semelhante...).
Creio que o ciberdeputado do outro partido deve andar com dores de alma ao ver o Pacheco de ecrã em riste a ilustrar o seu discurso. Coisas que nem o Marcelo conseguirá tão cedo.
Um novo estilo de homo-politicus.
Mas... coisa inaudita: ganhar umas massas com base em blogs do domínio público cheira-me a coisa estranha... ou será impressão apenas minha? Deve ser. De certeza que cai no domínio do direito de autor, pelo que o fisco não lhe pode pegar.
Pelo menos teve uma virtude: os textos do MM foram apagados.
Força, Pacheco!

Propinantibus

Sim... já sei que não sou a melhor pessoa para opinar sobre propinas... andei pela Católica em duas cidades diferentes, mas em qualquer delas tive que pagar o que a Santa Madre definiu como custo de estudo.
Mas, carambas, revolta-me esta coisa das propinas. E revolta-me há mais de uma década, desde que uns tipos mostraram o rabo ao ministro da tutela da altura (e de péssima memória, diga-se).
Algumas vezes tenho que me deslocar a universidades deste país e não consigo estacionar a carripana em sítio algum. Os estacionamentos estão cheios de carros - melhores e mais novos que o meu.
Os bares e pubs das cidades vivem à custa dos estudantes universitários.
As discotecas da moda estão cheios de beautifull people e de... estudantes universitários.
A indústria tabaqueira alimenta-se de uma boa fracção dos estudantes universitários.
As festas das Queimas consomem centenas de litros de cerveja e de shots... pagos pelos estudantes universitários.
Mas, quando se apresentam contas para sustento da universidade, das duas uma:
1. Ou adoptamos o esquema do Jardim - vocês pagam e a gente goza;
2. Ou fazemos greve às aulas e atravancamos as cidades com manifestações (alimentadas a bejeca, claro...).
Que se passa neste país?
Anda metade a descontar e a sofrer e a adiar para outra metade gozar, fugir, concretizar.
E, o mais certo é, à semelhança do Jardim, os reitores e os estudantes ganharem a aposta... (um ministro em situação de Ex sempre gosta de ter ao seu lado os reitores - dá mais facilidades académicas para si e para os seus...)... digo eu.

sexta-feira, setembro 12, 2003

... ?

Voltamos a arder.
Estranha militância esta, a dos ardentes.

Do Arsélio

No meu tempo não se queria ser militar. Eu que o diga. Tentei ser marinheiro e fui impedido por falta de alguns quilos e alguns centímetros. Ainda me lembro da figura que fazia, pequenito nú, no meio daqueles matulões. Nunca passei além da inspecção por médicos atentos que tiveram a honradez de me informar sobre o sofrimento que resultaria da minha teimosia em aparecer no Alfeite com uma farda tão pequena. E não aceitaram a minha teimosia.
O contrário aconteceu quando me apresentei na inspecção para o serviço militar obrigatório. Não hesitaram um momento em considerar-me apto para todo o serviço militar qualquer que fosse a farda escolhida. Aqui não escolhia farda. Era obrigado ao fardo. Como militar, militei.

E, ao longo da vida, não deixei de militar por uma ou outra causa. Frequentemente tentava juntar-me a outros que via a militar pelas mesmas causas. E fui ganhando o vício de acompanhar os meus amigos nas suas viagens pelos partidos e organizações. Ou pelas escolas. Ou pelas terras. Fui andando ao lado dos meus amigos e estes eram dos que tinham causas e não tinham poder.

A favor de que causas Manuel Arcêncio é militante? Se outras não adivinhássemos, temos a Murtosa como causa.


AM

segunda-feira, setembro 01, 2003

Tempo de militância

Não. Nunca fui militante de coisa alguma. Tentei militar nas forças armadas mas, por 4 vergonhosos e sistemáticos anos da minha vida, fui despachado da secretaria da Escola Prática de Cavalaria de Santarém com um carimbo de "Adiamento Concedido. Erro de Incorporação", meticulosamente carimbado e assinado por um ajudante de sargento que teria tido todo o prazer em me fazer a vida negra naquela unidade militar.
Falhei a militância do 25 de Abril, pois era muito novo para andar a desfilar pelas ruas a favor ou contra fosse o que fosse. Assisti impávido e sereno à queima de sedes de esquerdas e de direitas. Fui arrastado de sala em sala para esticar o braço de acordo com os mais velhos que convocavam hora a hora várias RGA's contra os professores reaccionários.
Falhei a militância na juventude, pois foi uma altura muito complicada da minha vida e não deu jeito nenhum andar nessas andanças.
Falhei a militância na idade adulta, pois nunca percebi o que era ser militante e segui a máxima de que burro velho não aprende truques novos.
Por isso, fico roído de inveja quando vejo tantos militantes em Portugal. Devem ser bem mais felizes que eu, Têm um objectivo supra pessoal. O meu egoísmo é incomensuravelmente maior que o deles que andam dia e noite a trabalhar em prole do povo anónimo. Vejo-os a correr de um lado para o outro, jovens, frescos, com gel no cabelo, fato de bom corte, gravata igual à do líder, sapatos brilhantes e afirmantes nas passadas do dono.
Eu arrumo-me para não ser abalroado por estes jovens militantes. O meu burguesismo saloio deve ficar escondido perante tanta luz social que brilha em redor deles.
Ouço-os a discutir avidamente os assuntos do dia enquanto tomam o café da manhã e a anotar apontamentos rápidos nas suas agendas impecáveis. Andam em pequenos grupos e falam sempre para telemóveis, raramente entre si. Dão frequentes entrevistas a jornais de renome e dizem sempre que não militam por razões pessoais mas pelo bem da nação portuguesa. Dizem-se sem dinheiro, mas gostam de coleccionar objectos de cultura e têm casas em sítios ecologicamente correctos. Adoram Portugal, mas não conseguem passar sem algumas idas ao estrangeiro; porém, o Verão é sempre passado perto do líder.
Lembram-me os catecúmenos primitivos:detêm a verdade e querem-na transmitir a todos sem tardança. Não temem a morte. Temem apenas o desagrado do líder.
Vejo-os partir nos seus carros novos de dois lugares, com pastas amontoadas no banco ao lado e a mala repleta de materiais de campanha. Vão preparar mais um espaço para a chegada do líder e vão galvanizar os íncolas para que o líder se sinta acolhido e feliz e para que Portugal, urbi et orbi, saiba que o líder é o melhor para o nosso futuro.
À noite, egoisticamente refastelado no meu sofá, volto a vê-los em todas as TV's a dar explicações e a tecer comentários sobre o momento que se vive. Revejo-os nos palcos, ao lado do líder, a sorrir candidamente para o povo que se amontoa em frente ao palco e a dar discretas ordens aos outros militantes.
A sua pujança é garantia de um Portugal mais forte e empreendedor. Com estas promessas de gente nova e diferente não haverá crise que nos derrote.
Sinto-me triste, pois falhei a militância. Suspiro. Levanto a minha nocturna chávena de chá fumegante, levo-a aos lábios e penso como seria a minha vida se eu tivesse conseguido ser militante...