quarta-feira, janeiro 28, 2004

Não deixe de ler:

O lado esquerdo , em "O circo com feras", publica um interessantíssimo alfinete de dama... direitinho ao coração já quase exangue dos nossos governantes.

Mas... se fosse apenas o Ministério da Justiça, meu caro...

terça-feira, janeiro 27, 2004

Uma Murtosa antiga

Parece-me coisa de magos esta terra de gente marinhoa que nasce aos gritos e morre em silêncio ouvindo o rugido do mar ao longe.
Nascemos nas bateiras e nas proas e saltamos para terra sempre com saudades da água salgada que nos abraça. Olhos abertos de esperança e mãos prontas para a acção. Nunca recusamos ajuda a quem a pede nem medimos esforço para ajudar um amigo em necessidade.
Dividimo-nos por freguesias várias e sentimos essa divisão pesar nas nossas vidas sem que, no entanto, essa separação signifique indiferença. Mesmo orgulhosos do nosso lugar, acorremos a qualquer um no momento da chamada.
Terras deixadas pelo mar, umas húmidas outras úberes, juntas parecem uma filigrana saída de mão de primoroso artista. Vivemos inquietos neste retalho de mundo incerto. Olhamos à nossa volta em busca de resposta. Aceitamos em silêncio todos os golpes baixos da vida e, em fúria, partimos para outras terras em busca de outras vidas sonhadas.
Descobrimo-nos nessa diáspora acomodada à circunstância do provisório. Assumimo-nos como passageiros de um tempo rápido demais para a fixação. Os olhos, esses, continuaram em busca da água marinhoa.
Abraçámos alegremente todas as cruzadas que nos ofereceram, mesmo que a cruz fosse de duvidoso cristo. O tostão falava mais alto que a razão.
Construímos as terras que sentíamos dos outros e em cada centímetro de obra dos outros sonhavamos as nossas arquitecturas mais íntimas.
Regressámos ao chão sagrado onde deixámos fundas pégadas. Reaprendemos a trilhar os caminhos dos simples e apegámo-nos ao fumo da memória que sonhámos lá longe.
A realidade cegou-nos a vista cansada. Virámo-nos para o vento e aspirámos o suave perfume da maresia dando as costas ao futuro.
Em silêncio esperamos o amanhã construído pelos outros.
Não nos importa.
Somos peregrinos a prazo num mundo provisório e mágico.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

O Sousa...

Há algum tempo que venho ouvindo algumas das intervenções do presidente da autarquia desta terra e fico com a impressão de estar a ouvir palavras carregadas de demagogia gasta e inútil. À medida que o tom de voz vai subindo, o homem vai desfiando um rosário de números que servirão - acha ele -, para assustar os ouvintes. Milhões de Euros para isto, milhares para aquilo, prazos que decorrem, garantias de governantes amigos do peito, etc etc etc.
Cansa ouvir este tom de discurso. Agasta e desgasta os ouvidos.

Ontem fiquei siderado.
Não é que o nosso Sousa abanou as grilhetas?
O Sousa apontou as armas ao Governo e aos amigos "do peito" e, por entre tiros certeiros, foi dividindo as águas. Percebe-se que o nosso autarca reclama o valor que a Murtosa tem e que Estarreja teimosamente vem assumindo para si mesma. Sente-se uma guerra de protagonistas. O estarrejense, depois de alguma confusão inicial, assume-se como Roberto do PPD, cantando a pauta que o marques mendes lhe envia da capital do império. O seu desejo mais secreto será o de anexar a Murtosa por exclusão de oposição...? Talvez... Basta ver o símbolo novo de Estarreja: bateiras na Ria... basta ver o esforço do miúdo para afirmar-se como defensor de uma via de comunicação com o litoral marítimo, para poder chegar mais depressa à praia (na Murtosa, claro...); sonhos recalcados ou reencarnação tardia? Teremos que arranjar um Tibetano para nos dar uma ajuda nisto... nem o Vladimiro em toda a sua bronquice proverbial teria sonhado tão longe e tão disparatadamente...
O nosso sousita, depois de um período de medos e suserania silenciosa, parece querer abanar de si as peias da capital e assumir-se como mandatário do povo que o elegeu.
Gostei do que ouvi.
Até aplaudi!
Espero que não tenha sido demagogia de circunstância para jornalista sublinhar...

terça-feira, janeiro 20, 2004

Peregrinos

Hoje esteve na Murtosa o "Peregrino do Optimismo" - assim se apelidou o Presidente de todos nós...
Veio para cumprir a promessa de visitar todos os concelhos de Portugal antes de terminar o mandato.
Ouviu o que o nosso autarca disse. Falou de improviso... beijou as crianças, apertou dezenas de mãos, tomou café connosco, sorriu a um cachecol do Sporting, e foi almoçar à Pousada da Ria.
Dizia uma senhora na praça: "Olha, olha! Ele é como a gente!"
Ainda bem.
Mas é grave quando o povo olha para o Presidente da República como sendo a última esperança de um povo que está a perder a esperança e o optimismo. Mesmo que ele seja como a gente... Algo não bate certo nesta equação...