segunda-feira, janeiro 24, 2005

A Par D’Ilhós

Já a Celine e o Januário expressaram a sua opinião sobre o concerto do “A Par D’Ilhós” Enssemble que decorreu no salão nobre da Câmara Municipal da Murtosa no passado sábado.
À mesma hora decorria um jogo de futebol num dos canais da televisão.
Sem dúvida alguma venceu o futebol e o frio.
É pena que assim tivesse sido, pois os “A Par D’Ilhós” mereciam mais assistência e a Câmara Municipal merecia que os seus munícipes a incentivassem a fazer ainda mais.

Como diriam os Gatos Fedorentos: “Falam, falam, falam…” Se a Câmara não faz, todos atiram pedras. Se a Câmara faz, não participam.

Está de parabéns o sector cultural da Câmara Municipal e o nosso presidente pela iniciativa feliz. Faço votos que não esmoreçam nas iniciativas. Devem insistir e continuar a promover todos os meses algum acontecimento cultural que possa decorrer no salão nobre da Câmara Municipal. Não precisamos de mega-produções. Precisamos de insistência cultural, de coisas simples e que possam ir criando o bom hábito de sair de casa para aprender alguma coisa nova. Se fizerem isso, estarão a contribuir para a mudança de mentalidades de alguns murtoseiros.

Sei que dói ter uma sala com cadeiras vazias mas, por isso mesmo, deve-se insistir e persistir na tentativa de mudança.

A Murtosa tem tido uma longa letargia de produtos culturais. Na última sessão do “Há Hora Marcada” isso mesmo foi referido por muitos dos presentes. Os mesmos que não estiveram presentes no concerto dos “A Par D’Ilhós”. Fala-se muito e gratuitamente.
Nem sempre se é congruente com o que se diz e faz. É pena.

Facilmente apontamos o dedo aos erros da Câmara Municipal, mas depois mostramos dificuldade em aplaudir o que se faz de bem.

Esta problemática do fazer ou não fazer leva-nos de regresso à temática das colectividades. Tenho para mim que algumas colectividades só fazem se a Câmara pagar bem. Se o subsídio for farto, aparece algum trabalho, de outro modo apenas chovem as críticas vazias. Esta velhíssima “subsidiodependência” já deveria ter tomado outro rumo e assumido um bairrismo de outros tons. Tons de orgulho no que se faz, mesmo que seja pouco e pequeno. Orgulho de se estar implantado numa comunidade que fez nascer e deseja aquela colectividade. Orgulho de depender da colaboração da comunidade circundante e de se ser capaz de atrair novas comunidades. Ficar-se à espera do cheque da Câmara ou do Governo Civil ou do almoço de Newark é empobrecer a comunidade e retirar-lhe a sua quota parte de responsabilidade na vida das colectividades.

Podem-me acusar de apontar o dedo a muita coisa, mas não me podem acusar de não aplaudir o que é bem feito. Por vezes, nós murtoseiros, temos a tentação fácil de dizer mal de tudo e de ignorar o que é bem feito. É o que se diz por aí. Tenhamos a coragem de participar no que é organizado na Murtosa, mesmo nas coisas simples do dia a dia, mesmo quando não há “Alas de Namorados” em palco, mesmo quando é na Câmara Municipal. Mesmo quando é grátis ou mesmo quando é preciso pagar um pouco. Mesmo quando seja preciso sair de casa e estar com outras pessoas de que até nem gostamos muito.

Dos “A Par D’Ilhós” Enssemble pouco haverá a dizer. É um grupo simpático e alegre que está a atingir um ponto de maioridade invejável, quer pela postura em palco, quer pela qualidade musical, quer pelo trabalho insistente que tem feito na recolha e tratamento de temas populares, dando-lhes novas roupagens de grande qualidade técnica. A “mão” do Nuno Alexandrino faz-se sentir nos temas apresentados e nas sonoridades produzidas, mas o que surge aos olhos e aos ouvidos é um corpo unido que se sente bem a trabalhar em conjunto e que mostra alegria e orgulho naquilo que faz e apresenta. Mesmo quando tem que recomeçar um tema porque a entrada correu menos bem. Quem assiste sente-se confortável com os “A Par D’Ilhós” e sente-os como “seus”. Só por isso, já estaria justificada a sua existência, mas os “A Par D’Ilhós” ultrapassam largamente essa simplicidade e podem ombrear, sem qualquer receio, com qualquer grupo de música tradicional da Europa.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa (2)

"Filho és, pai serás. Como vês, assim farás."

Todos conhecemos este ditado popular. E, o pior, é que andamos a sofrê-lo em cada dia que passa. Cada vez mais.

Os problemas da adolescência agudizam-se com os problemas preexistentes de falta de educação, diálogo, entendimento e aproximação que vão caracterizando alguns pais modernos. Com a eterna e esfarrapada desculpa de não estarem sintonizados com os tempos modernos ou com o grave problema de falta de escolarização de uns e outros, a Murtosa vê aumentar o número de crianças que em casa nada têm que lhes crie a noção de "lar".

Este vazio afectivo cria crianças carentes de carinho e atenções. Leva-as a assumir atitudes de confronto com uma sociedade em que elas reencontram e reconhecem os mesmos problemas que têm em casa. Deixa-as frustradas numa escola que lhes dá pouca atenção individualizada e especializada.

Procuram, por isso, todas as soluções em todos os sítios.
A Santa Casa tem estado atenta a estas questões e ficamos sempre com a sensação de que alguns pais deixam de investir nos adolescentes. Todos se preocupam imenso com os bebés e com as crianças até aos 11 anos. Daí em diante, o tempo cuidará deles e a escola é o grande armazém de recolha e guarda dos adolescentes e jovens. Os pais ignoram o que os filhos fazem na escola, nos "furos", nos tempos livres, nas tardes sem horários.

Alguns adolescentes e jovens ocupam boa parte do tempo livre em diversas actividades, desde desportos, aprendizagem formal de conhecimentos musicais, frequência de piscinas e aulas de dança e ballet. Sendo actividades de enriquecimento pessoal, são desejáveis e os pais investem nelas com grande empenho e alegria.

Mas nós não estamos a falar desses adolescentes.

Falamos dos outros. Falamos dos que não têm dos pais o investimento necessário, quer por dificuldades financeiras, desinteresse, pais separados ou que não assumem a respectiva paternidade. Falamos da Murtosa numa totalidade que nos aflige todos os dias; numa terra onde muitos equipamentos faltam e que sobejam em terras vizinhas. Se repararem nas respostas dos pais a um questionário que está nas páginas deste boletim, vereis que todos sublinham a falta de uma piscina. Sublinham a falta de actividades concertadas e diversificadas que possam dar resposta a adolescentes e jovens sem rumo para os seus tempos livres.

Talvez esteja chegado o tempo em que os "pais" SEJAM mais pais, mais cidadãos empenhados em mudar o que está imperfeito e ajudar a implementar novas soluções. Não basta apontar erros e defeitos; importa assumir soluções e imprimir qualidade a uma terra que há demasiado tempo confia apenas nos outros.

Importa que os pais mostrem aos filhos novas maneiras de serem pais, para que, amanhã, os filhos sejam melhores pais de novos filhos com novas e melhores perspectivas de futuro.

Alzeihmer [1]

Acho fantástico que o PS ande aos pulos a gritar “Aqui d’El Rei” porque o Santana nomeia “boys” do PPD/CDS e inaugura obras prontas.
Se a memória não me falha, o PS fez exactamente o mesmo – e bem mais despudoradamente – dias antes de sair de cena.
Mais do mesmo.
Sempre.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Saldos de Inverno

Palavras caridosas me informaram que alguém andou a enviar um dos meus textos a algumas pessoas da Murtosa.
Será interessante como leitura ligeira, mas não passará disso.
Os meus textos não são armas, nem ameaças, nem promessas.
São apenas e só textos, que têm o valor e a força própria dos textos pessoais.
Não são manifestos pré-nada nem declarações de guerra a ninguém.
Quem assim os entende apenas lerá erros onde eles não estão e apenas catará ventos onde eles não foram semeados.
Quem assim distribui textos de outros apenas busca a promoção própria, não a minha.
Prova não ser capaz de criar, mas apenas copiar.
E mal.

Há Hora Marcada na Santa Casa da Misericórdia

Inserido nas actividades do Projecto Leme (POEFDS), a equipa técnica deste projecto está a promover uma série de tertúlias com o objectivo de permitir que as pessoas estabeleçam pontes de diálogo umas com as outras, atirando vários temas para a mesa do debate, num ambiente informal e calmo, sem protagonistas ou protocolos.

Na sexta-feira passada, tal como o Januário já sublinhou, houve “Há hora marcada”, com o tema de “Associativismo e colectividades”, tendo reunido no salão de espectáculos da Junta de Freguesia do Bunheiro um conjunto de pessoas ligadas a diversas associações e movimentos que existem na Murtosa.

Do debate, inteligentemente moderado pelo Dr. António Amador (o Clara), não nasceu nenhuma luz ofuscante, nem é esse o objectivo destas tertúlias. O que o moderador soube bem fazer foi promover as pessoas interessadas em conversar. Várias gerações de gente que dá o seu tempo, gratuitamente, a várias iniciativas sociais na Murtosa. Uns com mais experiência e bem conhecedores das dificuldades em renovar as associações e outros mais românticos, com ideais fantásticos e positivos. Todos, a conversar, a várias vozes, mas em sintonia de objectivos.

Como tive oportunidade de referir, o que interessa é falar sobre os assuntos. É isso que mais falta se faz sentir na Murtosa. Interessa promover os mais novos, dando-lhes espaços para se expressarem e darem a conhecer as suas ideias, as suas capacidades, os seus interesses.

As associações serão os lugares onde as pessoas se juntam, porque lá encontram pontos comuns unificadores. Mesmo que esses encontros pouco tenham a ver com a ideia fundadora da associação ou colectividade.

O renovar-se em cada dia foi o assunto mais explanado por todos: as dificuldades em captar novos e dinâmicos associados, o trazer de volta os antigos frequentadores dos espaços, a revitalização dos objectivos que levaram à criação da colectividade, a renovação dos órgãos sociais ao fim de alguns mandatos. Todas estas preocupações atravessaram as palavras das pessoas que foram falando. Falaram mais que o esperado. Falaram sem olhar para o relógio e sem ter pressa em sair. Falaram como quem descobre que, afinal, os outros querem saber o que eu sinto pela minha colectividade. Falaram como quem partilha um segredo que deve ser de todos.

Foi um passo. Mais um passo no longo caminho do diálogo de gerações. Interessa criar esse gosto, esse hábito de partilhar ideias e palavras à volta de mesas informais. Vimos que as pessoas sentem necessidade de serem ouvidas, de fazerem ouvir a sua voz, de serem contestadas por outros, de dar passos atrás em algumas das suas convicções. O monólogo mata a criatividade e deixa que a insatisfação cresça e alastre a todo um povo.

Entrei com esperanças pequenas, saí com alegria por saber que a noite não foi desperdiçada para ninguém.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa (1)

A Santa Casa da Misericórdia da Murtosa tem abraçado novos projectos de intervenção comunitária na esperança de conseguir oferecer algumas respostas às solicitações que todos os dias lhe chegam.
O LEME, inserido no POEFDS, é um desses projectos socializantes que a Santa Casa patrocina com entusiasmo e esperança.
Temos a clara consciência de que não iremos mudar a Murtosa nem tão pouco solucionar os problemas das pessoas com quem trabalhamos, mas temos a esperança de semear alguns grãos de novidade nas famílias que nos procuram.
A Murtosa vive tempos estranhos. Tempos de falta de solidariedade, de isolamento social, de algum egoísmo. Falta criar nos Murtoseiros a antiga amizade solidária para os bons e maus momentos da vida. Falta dar a conhecer a importância da ajuda mútua. Falta educar para a solidariedade.
Não somos uma terra de elites, mas sofremos com a mentalidade que algumas elites teimam em espalhar: vivemos de costas voltadas para a dor do próximo. Esta dor consubstancia-se em isolamento, abandono, ignorância, falta de respeito, falta de educação básica, falta de regras de higiene e segurança, falta de civismo, falta de formação especializada, pobreza de meios e de pensamento.
Por vezes temos a tentação de esquecer e de tentar apagar em vez de intervir e de agir. Aplaudimos quando outros intervêm, mas somos meros espectadores passivos. Gritamos quando esses problemas se aproximam de nós e exigimos medidas... aos outros. Preferimos a ignorância à acção.
Há quem viva e morra sem nunca ter feito um acto de solidariedade, convencido que viveu uma vida normal.

Em Aveiro, uma vez, disseram-me que os Murtoseiros comiam na gaveta... não percebi o que queriam dizer. Explicaram-me que os Murtoseiros eram conhecidos pela sua faceta de egoístas e tinham o prato da comida na gaveta para o poderem esconder se algum entrasse em casa nesse momento, para não terem que oferecer comida a quem chegasse.
Será verdade? Será apenas maledicência dos cagaréus?
Queremos alertar os mais novos para estes problemas do isolamento e do abandono social em que muitos de nós vivemos. Mesmo os mais abastados por vezes vivem sós e carentes de convívio.
Queremos que a Murtosa renasça e se renove no espírito de amizade, apoio e solidariedade. Depende de mim e de ti este esforço. Que cada família saiba abrir as suas portas àqueles que precisam.
Nem que seja apenas um sorriso. Por vezes isso basta para começar um mundo novo.

sábado, janeiro 08, 2005

2004 - o ano dos blogues

«Antes, os blogues eram uma curiosidade, um fenómeno de culto, um ‘hobby’, como coleccionar selos. Mas em 2004 os blogues ascenderam inesperadamente ao panteão dos grandes ‘media’ emparelhando com a televisão, a rádio e, sim, a imprensa escrita.» Esta frase de Lev Grossman, o editor da «Time» que redigiu o texto da primeira escolha daquela revista para «Blog of the Year», vai tornar-se uma referência tão importante quanto a definição do termo «blog» incluída oficialmente nos principais dicionários da língua inglesa em 2003 («Oxford English», Grã-Bretanha) e 2004 («Merriam-Webster», EUA). Isto porque, defeitos à parte, a «Time» continua a manter um tremendo prestígio que confere à suas escolhas um tom ditatorial.
in "Expresso"

terça-feira, janeiro 04, 2005

O Pedro

Apesar de o/a Gaivota Saltitante me acusar de ser do contra, não posso deixar de escrevinhar estas linhas a propósito do Blog do glorioso 190.

Publicam a foto do “Pedro”, um dos raros casos sérios de escutismo da Murtosa. Sério, porque o Pedro sempre viveu e sofreu o escutismo, e ama cada momento em que veste a farda. A sua disponibilidade deveria merecer rasgados elogios de quem do escutismo tem feito modo de vida.

Não será o melhor e o mais sábio dos escuteiros, mas foi sempre, para mim, uma figura muito querida do movimento escutista. Ele simboliza o que de mais puro e inocente haverá no escutismo. Apesar da idade, o Pedro ainda é criança e sente o escutismo como uma mística inefável a seguir ao longo da vida. Mesmo nos momentos mais tristes da vida do Pedro, ele sempre considerou o escutismo como um refrigério para as suas dores e dúvidas.

Se o 190 mereceu (e merece) a medalha de ouro do município, o Pedro merece uma parte dessa medalha pois, ao longo dos 75 anos do Agrupamento, o Pedro marcou presença em boa parte deles e viu muitas gerações a entrar e a sair do Agrupamento sem que isso pusesse em causa as suas crenças.

Serão crenças simples. Mas, Baden Powell nunca imaginou o escutismo como uma escola de elites, mas uma base de partilha e de camaradagem aliada a conhecimentos técnicos e ao amor pela natureza. Isso o Pedro sempre soube compreender e praticar. Com simplicidade. Servindo, algumas vezes, de bode expiatório para os erros de outros mais capazes. Mas, e por isso mesmo, tem sido sempre o melhor dos escuteiros.

Está o 190 de parabéns por todos estes anos de bom e efectivo trabalho em favor dos jovens.
Está o 190 de parabéns por ter ressuscitado um fantástico grupo de “velhas guardas” que sempre honraram o escutismo em todas as suas vertentes e que, agora, ainda têm muitíssimo para dar e construir.

Não desistam. Nunca.
Aceitem uma canhota de um velho caminheiro.
Sempre a servir.