Estamos numa fase de “Cartas Educativas”.
Trata-se de um documento de profundo interesse para o futuro da educação em cada um dos Concelhos deste país. Deliberou-se “autarquizar” uma boa parte do nosso sistema educativo. Infelizmente, como sempre, ninguém consultou as escolas. Refugiaram-se em gabinetes, ligaram-se à Internet, copiaram o que puderam, imprimiram umas centenas de folhas e apresentaram o documento. Ei-lo! Pronto a ser analisado e votado por uma maioria desconhecedora da realidade das escolas, por pessoas que nem têm filhos, por pais que nunca vão à escola, por pessoas com reduzida escolaridade.
As escolas – professores, alunos, não docentes, pais - foram esquecidas.
Preconizam-se encerramentos de escolas e a criação de centros escolares como quem discute a planificação de uma horta. As estatísticas são o cerne destes documentos e enchem-se páginas com gráficos e tabelas que apontam o dedo ao passado para o condenar no futuro. A ânsia das autarquias é mostrar “obra”, gastar muito dinheiro em edifícios novos para serem inaugurados.
As comunidades foram ignoradas nestas análises técnicas e sempre que se questiona o futuro dos edifícios que ficarão abandonados, vai-se titubeando a cantiga populista de que o edifício será sempre útil para a comunidade. Como? Que cultura estamos nós a tentar criar ao subtrair todos os alunos às suas comunidades e a inseri-los numa terra de ninguém a que vamos chamar “Centro Escolar” ?
Não será defensável que tal deslocação represente apenas perigos ou perdas de identidade. O que irá provocar, a curto prazo, será o empobrecimento das pequenas comunidades onde vivem as escolas e a criação de problemas cuja magnitude será difícil de gerir. A aglomeração de todos os alunos – como se preconiza na Carta Educativa do nosso Concelho – num único local, por muitos recursos que sejam criados, por muitos edifícios que se construam, será sempre um erro estratégico para o reforço da importância de cada freguesia e para a construção das comunidades locais.
Cada lugar tem uma circunstância própria, a sua idiossincrasia. Essas diferenças constituem a riqueza de um povo. Deveria ser responsabilidade da Câmara Municipal o reforço dessa riqueza e a defesa da sua continuidade. Este esforço deveria ter raiz na escola existente nessas comunidades, crescer na comunidade e expressar-se nas suas realizações culturais, desportivas, recreativas. Não é o reforço de um bairrismo cego e ignorante, mas a defesa e melhoria de uma cultura local diferenciada.
Será bem mais inteligente e sustentável a criação de 3 núcleos distintos e complementares: o núcleo da Torreira, que já existe e tem uma Escola Básica Integrada; o núcleo da Murtosa/Pardelhas, com a transformação da actual Escola Básica e Secundária em Escola Básica Integrada; o núcleo do Bunheiro/Monte, com a criação de outra Escola Básica Integrada. Como se prevê que a curto prazo o ensino obrigatório passe para 12 anos, todos estes núcleos deverão já prever esta exigência. Creio que o investimento será menor do que o que implica o Centro Escolar previsto no actual documento orientador, e será uma solução muito mais sustentável e fácil de gerir ao longo das próximas gerações.
Com a construção das piscinas municipais, agregadas ao Parque Municipal, e a futura Biblioteca Municipal, o passo seguinte será a integração destes equipamentos nos Projectos Educativos dos 3 núcleos escolares da Murtosa, permitindo a partilha de realidades culturais entre os alunos destas escolas, a implementação de jogos, prémios, actividades comuns, bem como sessões de trabalho entre os professores do Concelho e muitas outras possibilidades de melhoramento pessoal de todos os murtoseiros, pois as escolas deverão estar abertas a todas as pessoas, a todo o tempo, e devem liderar acções de promoção de cada pessoa, desde a qualificação escolar à oferta de meios e espaços de cultura e conhecimento.