quarta-feira, dezembro 21, 2005

A democracia do optimismo

“O senhor não tem uma formação democrática precisa”, disse Mário Soares no debate com Cavaco Silva. Este discurso do ex.presidente, frente ao ex-primeiro ministro, leva-me a evocar a problemática dos “anti-fascistas” em Portugal.

Temos o eterno problema de não nos conseguirmos libertar do passado e das etiquetas que flutuam no nosso oceano do pensamento. Há uns anos atrás, só podiam ser “democratas genuínos” aqueles que tivessem sido perseguidos pela PIDE ou tivessem estado presos por motivos políticos… mesmo os que tinham andado a roubar bancos antes do 25 de Abril passaram a ser “anti-fascistas” e “democratas”.

Com o advento das novas gerações, a coisa complicou-se, e os democratas passaram a aceitar que os mais novos entrassem para o “clube”… era politicamente correcto e era preciso encher os ficheiros dos partidos com sangue e quotas novas.

Agora, Soares vem ressuscitar o direito a ser-se democrata, de acordo com os seus cânones, claro.

Com isto, não defendo Cavaco – o verdadeiro e único predador da classe média em Portugal. Apenas me preocupa que a cabeça de Soares volte a processar as ideias ultrapassadas e caquéticas dos “democratas” portugueses. Com isto, o cavaquismo pode esfregar as mãos de contente, pois as outras campanhas andam a tocar pela mesma pauta de Soares.

Arriscamo-nos a ter mais uns cavaquistões pululantes em Portugal.

Se o desemprego nos obriga a emigrar, novamente, Sócrates e Cavaco juntos vão conseguir fazer-nos recuar mais uns 40 anos em tempo recorde.

Mas, aquilo que mais ressalta desta primeira série de debates televisivos dos diversos candidatos mais “colunáveis” é que pouquíssimos estiveram interessados em debater ideias para o futuro de Portugal. Há tempos atrás, Jorge Sampaio afirmou-se como o “peregrino do optimismo” e conseguiu criar algumas expectativas positivas no povo português, mau grado o aumento galopante do desemprego. Nem sempre interessa dar beijos aos empresários – pois esses “deslocalizam-se” rapidamente, de acordo com os seus interesses -, mas interessa incutir confiança no povo simples e recriar a Classe Média em Portugal, pois só ela conseguirá sustentar o país. Os belmiros, mellos, espíritos santos e quejandos investem onde e quando lhes interessa. A Auto-Europa e outras iniciativas do género, instalam-se, sugam, delapidam, e movem-se para novos terrenos férteis e fáceis. E nós vamos ficando na mesma, quais donzelas enganadas e de olhos esbugalhados nas revistas sociais.

Não será o cavaquismo a resposta para Portugal. Não o foi. Foi apenas uma resposta para alguns, poucos e felizes. Portugal ficou com estradas. Apenas isso. E a maior parte mal feita e muitas inacabadas. O famoso “pacote Delors II” acabou na mão dos vendedores de casas de luxo, de carros topo de gama, de tractores e pouco mais. Porquê? Porque não houve fiscalização séria. Não interessava que houvesse, claro. Hoje pagamos essas facturas e continuamos fracturados, inadequados à velocidade europeia, mal-formados, excluídos academicamente, esquecidos tecnicamente. Gabamo-nos de fazer parte de algumas comissões importantes, mas somos apenas um ou outro. Nunca um povo. Ninguém nos olha com respeito ou admiração… olham-nos como os “gregos” da outra ponta da Europa, que fornecem óptimas empregadas domésticas, submissas e trabalhadoras e empregados da construção que trabalham o dobro dos outros por metade das chatices.

Por isto tudo, não precisamos de “democratas”, precisamos de um líder capaz de incutir no povo português a coragem de vencer os desafios e não alguém que apenas saberá ou aumentar dramaticamente as contas públicas com viagens e mordomias ou embirrar com todos aqueles que não o ponham num pedestal.

terça-feira, novembro 29, 2005

Da Assembleia Municipal

Ontem, 28 de Novembro, decorreu uma sessão da Assembleia Municipal da Murtosa. A primeira depois do acto da respectiva instalação no dia do aniversário do Concelho.

Para os 21 elementos do público (um quase recorde em termos de assembleias “normais”), terá sido um espectáculo triste.

Esteve mal o Sr. Presidente da Assembleia Municipal, pois não conseguiu conduzir os trabalhos com a correcção e precisão necessárias e indispensáveis a tal acto, permitindo que os oradores no período de “Antes da Ordem do Dia” se estendessem sem qualquer controlo pelo tempo de intervenção, permitindo que a Acta da penúltima sessão contivesse incorrecções e culminando com a estranha e ilegal votação da inclusão das correcções sugeridas pelos vogais. Ora, se uma Acta contém imprecisões, deve ser corrigida, não sendo pensável que tais correcções devam ser votadas. Ou há erro – e assume-se o erro e corrige-se da forma mais exacta possível – ou não há erro, logo não havendo lugar a correcção.

Esteve mal a bancada do PS pois, ao retirar-se tempestivamente, deixou espaço para a continuação do erro. Deveriam ter exigido o recuo e anulação da decisão do Presidente da Mesa da Assembleia Municipal, insistindo no erro cometido e apelando à legalidade que deve imperar nestas Assembleias. Abandonando a sala, ofereceram uma latitude sem fim aos erros contínuos da Mesa.

Esteve mal o Chefe da Divisão Administrativa e Financeira da Câmara Municipal, técnico reconhecido na sua área, que deveria ter chamado a atenção do Sr. Presidente da Assembleia Municipal para o erro que estava a cometer, tendo podido corrigir e evitar uma situação desastrosa e que terá, certamente, consequências completamente evitáveis se todos tivessem assumido o seu papel e dever.

Esteve bem o Sr. Presidente da Câmara Municipal ao defender a sua proposta de alargamento do número de vereadores em regime de permanência. Compreende-se a dificuldade da gestão de tempo de quem há 8 anos assume e lidera os destinos da autarquia, quase sozinho. Duvido que consiga libertar-se, rapidamente, desse hábito de centralizar decisões. Se conseguir delegar funções e confiar no trabalho dos seus pares, poderá ter 4 anos de excelente trabalho, tanto mais que os dois vereadores em apreço têm boas condições para dar pleno cumprimentos às exigências que lhes são impostas. O facto de haver salários relativamente elevados não constituirá grande óbice se o trabalho produzido fizer esquecer essa dor que alguns vão sentindo. Quanto maior a responsabilidade, maior deve ser o vencimento e a exigência de qualidade e excelência. Se o governo central assim agisse, Portugal estaria bem melhor.

As “Grandes Opções do Plano” apresentadas pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal reflectem as possibilidades de concretização a que a Murtosa pode aspirar. Creio que seja um documento realista, para um período difícil e complicado para se conseguirem apoios financeiros do Governo Central. Não foram apresentadas utopias nem houve miserabilismo. Ficou-se com a ideia de haver realismo e vontade de cumprir o possível.

Esteve bem o vogal, Sr. José Simões, secretário da Mesa, ao chamar a atenção para o estado de degradação do edifício municipal afecto ao Centro Recreativo Murtoense e para o facto de lá estar, também em risco de degradação, uma pintura do Dimas Macedo enquanto jovem.

Esteve mal a bancada do PSD que apenas interveio para ler o que alguém lhes escreveu. Falta opinião estruturada naquela maioria. Os cidadãos eleitos têm qualidade e têm um passado que lhes permite ter uma opinião bem formada sobre a Murtosa e deveriam sentir o dever de intervir e não apenas o de cumprir uma disciplina partidária completamente redutora dos seus caracteres e personalidades. Todos eles têm experiência nas suas áreas e têm opinião – pois até a partilham na rua com amigos e terceiros -, não se compreendendo o seu silêncio ou a sua “leitura de encomenda”. A Assembleia Municipal da Murtosa tem que ser o lugar onde a Murtosa possa ser sentida e vivida, independentemente de cores partidárias. Que haja disciplina partidária no acto de votar, compreende-se e aceita-se. Mas deve haver mais capacidade de intervenção e até de chamadas de atenção. Ganharia a Murtosa e sei que muitos desses vogais municipais viveriam melhor com as suas consciências.

Tenho pena desta Assembleia. De um modo geral foi uma assembleia triste. Espero que a Mesa da Assembleia aprenda rapidamente a conduzir assembleias e a evitar os erros que foram cometidos em cascata.

segunda-feira, novembro 28, 2005

O novo Provedor?

Uma vez que o post que o Joaquim Primo do Jornal da Rua publicou verá certamente a forma impressa num ou noutro periódico, e como quem não se sente não é filho de boa gente, venho responder aos escritos do Dr.José Augusto Tavares Gurgo e Cirne que, num inédito e nele nunca visto acto de coragem, assume o seu ódio de estimação pela minha pessoa.
Fico tranquilo pois a Santa Casa fica fora da sanha deste escriba ressaibiado e eu sei defender-me de várias maneiras pois, quem não deve, não teme.

As longas letras por ele escritas redundam em mentiras, facilmente comprováveis. Bastará, para arrumar com todas elas, perguntar às funcionárias da Santa Casa que tipo de ambiente laboral existia enquanto o Dr.José Augusto Tavares Gurgo e Cirne foi responsável pela gestão da Instituição, desde ameaças, férias “demarcadas”, reuniões para assinatura de folhas de papel em branco, salários sem qualquer tabela salarial correspondente, e outras arbitrariedades interessantes. Mas perguntem a qualquer das funcionárias ou ex-funcionárias e ficareis esclarecidos.

Todos as outras tretas só provam a ignorância que ele tipificou enquanto reinou como director de serviços.

Dos livros do Dr. José Tavares Afonso e Cunha, bastará ou visitar a Biblioteca com o seu nome, ou entregar à família a listagem que ele andou a conjecturar durante mais de 2 anos e da qual não deu qualquer conta à Mesa Administrativa. Ou seja: a Santa Casa andou a pagar-lhe o ordenado mais alto que qualquer funcionário auferia nesse tempo, e durante 2 anos, para se dedicar a um trabalho que ninguém percebeu, para o qual não tinha qualquer preparação e do qual não prestou contas a ninguém, apesar de ter sido instado a tal. Dos manuscritos do Dr.José Tavares Afonso e Cunha, saberá o Dr.José Augusto Tavares Gurgo e Cirne e deles já deve ter dado contas à respectiva família.

Dos computadores, verdadeira paixão do Dr.José Augusto Tavares Gurgo e Cirne, devo dizer que nunca precisei de qualquer instituição para ter os melhores e mais recentes computadores. Mas meus. E ainda hoje tenho computadores bastante valiosos. Mas são meus. Comprados com o meu dinheiro. Dos computadores da Santa Casa, devo dizer que todos os funcionários que os utilizem, consideram-nos “para seu uso pessoal”. Assim como o computador que está em cima da mesa do Gabinete do Provedor é “para uso pessoal do Provedor”… e dos restantes mesários. E nenhum custou mil contos… nem foi importado da Inglaterra de propósito. Só mesmo o cérebro do Dr.José Augusto Tavares Gurgo e Cirne é que consegue destilar tanta asnice.

Resumindo: de mentira em mentira foi a cobardia do Dr.José Augusto Tavares Gurgo e Cirne indo de esquina em esquina. Como habitualmente, de resto.

De uma coisa fico mais tranquilo: em 8 de Dezembro de 2006, veremos o Dr.José Augusto Tavares Gurgo e Cirne a encabeçar uma lista candidata aos órgãos sociais da Irmandade Santa Casa da Misericórdia da Murtosa. Assim poderá evitar os erros do presente e defender a santa casa de outros erros que se possam cometer. Mas sem o vencimento.

Isso, quero ver e aplaudir.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Para a minha colega Irene

Que sentido tem a morte de uma criança?
Como explicar aos pais que essa tão curta vida tem sentido?
Que mensagem extrair desse momento de dor e de revolta?
Como entender que aquele fim pode conter um infinito?

Nesses momentos são sempre mais as perguntas que as respostas. A dúvida do sentido da vida passa pelo crivo do absurdo da morte e deixamos cair os braços em desespero de impotência.

Restam as palavras ocas e sofridas, proferidas em sussurros de solidariedade. Restam as lágrimas vertidas quando os olhos não conseguem ver para além do cenário efémero da vida.

Fica aqui a nossa esperança na Fé. Não numa fé piegas e cheia de rezas a pique e perfumada de incenso. Esperamos na certeza da Vida para além desta vida tão cheia de incertezas e dores. Esperamos na Vida daqueles que vêem para além do palpável e que podemos vislumbrar no olhar de uma criança.

segunda-feira, novembro 14, 2005

O Maior Pesadelo de Todos os Tempos

Com o aparecimento e crescimento dos blogs (uma tecnologia fantasticamente democrática, quer permite que qualquer noviço informático possa editar, publicar e disseminar informação, opinião e contestação), assistimos a uma alteração profunda na relação da política com os seus cidadãos, dos governados para com os governantes.

Bastará investir algumas horas de cada fim-de-semana para se perceber que a movimentação criada em torno das eleições autárquicas não terminou ou esmoreceu. Os vencedores desligaram a sua actividade blog, mas os vencidos intensificaram-na e passaram a utilizar o blog como forma de oposição pública e constante. O blog assumiu um papel de contacto directo e constante com os munícipes.

Nasceu o maior pesadelo de todos os tempos para os eleitos locais. Cada acto público ou menos público é passível de ser imediatamente difundido em sistema de broadcast público, sem qualquer pejo ou atraso. Basta um computador ligado à net. Sem censura possível. Sem legislação que trave o ímpeto oposicionista de qualquer cidadão mais implicado. Sem hipótese de se rebaterem as afirmações de forma convincente ou em sede protegida.

O fórum político saiu das salas e dos gabinetes e passou para os ecrãs dos computadores. Daqui pode passar para os telemóveis e os cafés podem transformar-se em locais de grandes conspirações e de trocas de ideias. A juventude poderá intervir na vida da sua comunidade como nunca lhe foi possível. A sua voz pode ser lida e ouvida. Os alicerces da sociedade podem tremer se não estiverem sãos.

Procurem-se os blogs da oposição em Aveiro, Porto, Coimbra, Lisboa, Mangualde, Viseu e veremos argumentos que devem tolher de terror os eleitos locais. Daqui em diante veremos muitos argumentos a serem dirimidos nos blogs e nem tanto nas Assembleias. Veremos temas a serem testados nos bytes antes de surgirem nas Actas de reuniões. Leremos acusações. Espantar-nos-emos com denúncias imediatas e com explicitações que se desejavam secretas.

É um novo exercício de cidadania. Será uma nova forma se de estar na “polis”. Os véus cairão e a política poderá renovar-se se souber utilizar este meio de forma responsável e correcta. Sem populismos serôdios e sem secretismos paroquiais. Sem difamações covardes. Aqui se distinguirão os blogs construtivos e responsáveis daqueles que apenas pretendem atirar lama a paredes limpas. A comunidade poderá crescer e amadurecer se souber utilizar este recurso como forma de apropriação de poder partilhado e de indicador social. Bastará que o poder saiba ler o que aparecer escrito nas águas do dia a dia.

Será um pesadelo para muitos e uma libertação para alguns.

terça-feira, novembro 01, 2005

Horas Marcadas

A vida tem dessas coisas... Horas marcadas num calendário da imaginação da comunidade. Tempos de diálogo em torno de uma ideia. Gente diferente que se junta para conversar, trocar impressões, lembrar limitações, sonhar novas fronteiras.
As tertúlias marcaram épocas importantes na vida dos povos, desde questões literárias, políticas, sociais, educacionais, nada era proibido discutir em rodas de amigos e conhecidos. Do diálogo nascia a partilha de ideias, de sonhos, de possibilidades, de outras metodologias a experimentar.
Se mais nada se conseguisse com as tertúlias, elas marcavam a comunidade e ajudavam a transformá-la, por vezes até provocaram a queda de mitos.

O projecto Leme, da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa, tem promovido algumas tertúlias subordinadas a diversos temas e com diversos intervenientes. O objectivo é fazer renascer a vontade de conversar que os Murtoseiros foram perdendo ao longo dos tempos. Noutros tempos as famílias falavam, os vizinhos conversavam, os amigos encontravam-se para trocar ideias, para se ajudarem. Esses hábitos foram-se perdendo. Muitas serão as causas, pelo que as deixamos para quem quiser gastar o seu tempo a procurá-las. Nós preferimos oferecer algumas soluções: basta sair de casa, procurar os amigos e os amigos dos amigos e conversar. Sem protocolos. Sem regras exageradas.

Temos tido surpresas muito agradáveis com estas tertúlias. Temos ouvido pessoas que têm tanto para dizer que vários dias não chegavam. Temos visto pessoas que no fim da tertúlia, ou dias depois, dizem-me que tinham muito para dizer, mas que ganharam vergonha. Era a primeira vez.

É fantástico como a Murtosa é tão silenciosa sobre as coisas que são tão importantes para a sua vida. A educação dos filhos, dos adolescentes – o primeiro tema que abordámos – deixou inúmeras pessoas com tanto para dizer que ainda hoje trazem ao de cima o que quereriam ter dito. A dor de pais que sentem que erraram na educação das filhas e dos filhos, as dúvidas se esses erros poderiam ter sido evitados se tivessem tido uma abordagem diferente no momento exacto. São alguns dos mitos que importa derrubar e criar novos espaços de diálogo entre pais e filhos, entre educadores e técnicos de saúde.

Novamente tivemos descobertas fantásticas com a tertúlia sobre o associativismo e as colectividades. A paixão que os murtoseiros nutrem pelas suas colectividades ficou patente nesse encontro. O diálogo entre as associações é possível. Bastaria haver um sistema de partilha de experiências, de recursos e de dificuldades para que todas pudessem enriquecer e melhorar a sua acção junto das comunidades que as criaram e defendem.

As outras tertúlias (“O Alcoolismo” e depois “As Tradições”) foram momentos interessantes e muito ricos, percebendo-se que o alcoolismo atinge a unidade da família e desagrega o “cimento social” e que as tradições na Murtosa são mais que um punhado de recordações recolhidas e repetidas: são garantia de identidade e de união de uma gente nascida a respirar o perfume da ria. Gente que percebeu que, afinal, está muito mais unida entre si do que pensava.

Na última “Há Hora Marcada” o tema recaiu sobre a Educação e Formação na Murtosa. Percebeu-se que o dilema que assalta pais e educadores centra-se no papel da escola e na certificação de conhecimentos pelos sistemas não formais. Ficou claro que o modo de encarar a escola sofreu uma profunda alteração desde há 30 anos atrás. A massificação do ensino permitiu o acesso de todos os cidadãos aos instrumentos formais de formação e progressão escolar. Essa mesma massificação trouxe outros problemas como sejam a inadequação do sistema formal de ensino para todos os alunos e o nivelamento inferior da qualidade e exigência.
Hoje, olhando para a Murtosa, vemos muitos mais jovens a estudar e muitos outros a conseguir diplomas de licenciatura. Porém, vemos, igualmente, uma franja muitíssimo significativa e crescente de jovens que abandonam o ensino ou que não prosseguem estudo para além do 3º Ciclo do Ensino Básico.

Nasce a duvida:
- Que Murtosa vamos ter daqui a alguns anos?
Vejamos:
Mercê de migrações, procura de melhores empregos (ou apenas de emprego), fixação noutras terras por motivos de matrimónio ou de adopção de outras formas de estar na vida, muitos jovens da Murtosa nunca mais regressam ao seu local de nascimento.
Os jovens não qualificados vão sobrevivendo pela pesca artesanal, alguma agricultura residual, empregos precários ou em fábricas vizinhas.
O sector dos serviços recruta pessoas cada vez mais qualificadas e habitualmente esse recrutamento é satisfeito com jovens provindos de outras localidades.
Olhamos para alguns dos nossos jovens e vemo-los agarrados pelas doenças, drogas, DST, a própria SIDA que vai aumentando progressiva e silenciosamente na Murtosa, o alcoolismo, a marginalidade identificada. Esta franja da sociedade murtoseira é aquela que tem que ocupar as nossas atenções e ser alvo de intervenção.

O Prof. Arsélio Martins, no âmbito da dúvida sobre os vários sistemas que concorrentemente oferecem certificação do ensino básico (Sistema Escolar formal, SEUC, RVCC, EFA) afirmou algo surpreendente: “Interessa certificar a todo o custo! Mesmo que corramos o risco dessa certificação nos oferecer muitas dúvidas. Sejamos claros: uma mãe com um diploma de 9ºano obrigará os seus filhos a ter, pelo menos, o 9º ano e aspirará a mais.” Simples. Surpreendente. Real.
De facto, a grande alavanca da certificação e da formação são os pais. São eles quem devem “mandatar” os professores e não retirar aos professores a capacidade de educar os seus filhos. Não duvidamos que o problema da disciplina nas escolas nasce na ausência de mandato que os pais deveriam confiar aos docentes. Nasce, também, na ausência de exigência com que alguns docentes encaram o seu magistério. Nasce, também, com os pais “mal-criados” que vêem na escola a sede de todos os males. Nasce, também, da enormíssima quantidade de “saberes” que se pretendem incutir às crianças, deixando o importante submerso pelo acessório.

domingo, outubro 30, 2005

A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa

A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa assume um papel e um estatuto importantes na vida do Concelho em que nasceu e desenvolve a sua actividade desde 1899, altura em que é instituído o Asilo-Hospital de S. Lourenço de Pardelhas, pela mão do comerciante António José de Freitas Guimarães, e que evoluiu para Irmandade por força da decisão dos seus primeiros impulsionadores.
Disso reza a história e os documentos que o comprovam.

O que interessa sublinhar é o seu papel na sociedade de hoje.

As alterações no tecido social português a que temos assistido ao longo dos últimos decénios deixam as instituições de solidariedade com uma grande responsabilidade entre mãos: desde o apoio sócio-caritativo, o apoio à infância e adolescência, a intervenção junto dos jovens, a formação de desempregados e activos, o apoio na doença e na velhice e tantas outras valências sociais que são assumidas pelas Misericórdias Portuguesas.

A Misericórdia da Murtosa, desde sempre, cuidou, e bem, das pessoas com dificuldades de saúde, ausência de suporte familiar, interveio junto das famílias criando valências de berçário, creche e pré-escolar, criou e manteve um Lar de Idosos, ampliando-o e dando condições modernas de conforto e bem-estar aos seus utentes.

Como estrutura de intervenção social, a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa sempre esteve sob a mira de diversos observadores, desde os mais beneméritos e colaborantes – e que são muitíssimos – até aos mais malévolos e invejosos. Nada mais natural. Ao longo da sua história, alguns foram os episódios de tentativas de “assalto” por parte de interesses confessados e outros menos claros. Mas, os irmãos sempre conseguiram perceber e distinguir o certo do errado e sempre souberam entregar os destinos da sua Misericórdia às pessoas que em cada momento julgaram ser as mais certas.

A actual Mesa Administrativa tem tido a preocupação de manter viva essa tradição de solidariedade e de, ao mesmo tempo, adaptar a Misericórdia aos novos tempos e desafios que vai enfrentando.
Sendo uma estrutura empresarial, da qual dependem centenas de pessoas da Murtosa, desde os seus utentes aos seus funcionários, importa defender o seu futuro e saúde financeira, avaliando os investimentos a efectuar e as despesas a suportar em cada momento.
Sublinhe-se que as Misericórdias Portuguesas – com excepção da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – são estruturas geridas por voluntários – o Provedor e os Mesários – que não recebem um cêntimo pelo trabalho que desenvolvem nas suas Misericórdias. Como tal, importa ter uma equipa de profissionais que possam coadjuvar no dia a dia os Mesários e o seu Provedor e garantir o funcionamento dos diversos serviços. Estas decisões de gestão – desde as compras, os investimentos, as contratações, os despedimentos, as candidaturas a diversos programas nacionais e europeus – consomem muitas horas de trabalho voluntário que nem sempre é compreendido por algumas pessoas mais avessas ao voluntariado.

Rezam os mitos que a Santa Casa da Misericórdia da Murtosa é rica. É um facto. É rica em doentes, em idosos, em crianças, em jovens, em colaboradores, em acções e em intervenções na comunidade. O dinheiro e outros bens que possui só têm sentido se a sua acção social for interventiva. De outro modo é um peso e uma ofensa aos que precisam de solidariedade. Há quem acuse a Misericórdia da Murtosa de se “cobrar bem” pelos serviços que presta. A Mesa Administrativa desafia quem quiser provar que a qualidade dos nossos serviços está abaixo dos valores cobrados.

Como compreender que uma Misericórdia “cobre” serviços?

No caso da Misericórdia da Murtosa, cobramos o que é correcto ser cobrado e aqueles que podem pagar, devem fazê-lo. Sem excepções.
A noção de Solidariedade passa por isso mesmo: quem pode, deve assumir os seus compromissos, de modo que aqueles que, de facto, não possam pagar possam ser ajudados. Não há outra forma de compreender “solidariedade” e “misericórdia”.
O Lar de Idosos, com 78 utentes internados, conta com um número elevado de pessoas que não podem pagar a mensalidade – apesar de ser a mais baixa do distrito de Aveiro – e que não sentem minimamente esse facto. São assistidos da mesma forma e com o mesmo carinho e atenção que um utente que pague a totalidade dos seus compromissos assumidos. No Infantário, com mais de 130 utentes, passa-se exactamente o mesmo.

Não é fácil fazer compreender isto às pessoas. A incompreensão e a inveja, por vezes, toldam-nos a aceitação da solidariedade e a colaboração nesta rede social é um imperativo de consciência de todos os cidadãos, sejam cristãos, sejam agnósticos.

As estruturas físicas da Misericórdia têm recebido as atenções possíveis.

Desde a completa renovação interior e exterior do Infantário, o saneamento básico, a implantação de um sistema de aquecimento central nessa valência, um sistema de detecção de incêndios, aquisição de materiais didácticos, etc. A Mesa Administrativa encontrou um Infantário a cair de velho. As funcionárias não podiam usar água quente, pois os cilindros deixavam passar corrente eléctrica; as portas e janelas estavam podres e a cair: sempre que se abria uma janela ou porta, tinha que ir um funcionário de manutenção inventar forma de a fechar; o fogão não funcionava correctamente e em segurança, pelo que a confecção de cada refeição era uma aventura; a única máquina de lavar roupa era emprestada por uma empresa; a louça era lavada à mão; os espaços exteriores ofereciam vários perigos às crianças, desde ferros retorcidos a blocos de cimento dispersos. Foram diversas as intervenções, desde a criação de um pavilhão – subindo o seu pé-direito e criando as condições para poder funcionar como espaço polivalente, a renovação da cozinha, da lavandaria, substituição de todas as portas e janelas exteriores, substituição dos pisos das salas – as crianças caíam nos pedaços que estavam descolados -, limpeza dos tectos que deixavam cair o estuque que era respirado pelas crianças, ajardinamento dos espaços exteriores que, proximamente, ainda serão alvo de mais beneficiações.
O Infantário deixou de ter um ar triste e aspecto de tugúrio e passou a ser uma casa airosa, confortável e segura.
Registe-se que o Infantário tem um Regulamento Interno que prevê a existência de uma Directora Pedagógica e de uma Directora Técnica. Assim, a direcção pedagógica está sob a responsabilidade da Educadora Alcina e a direcção técnica está confiada à Prof. Dulce Vasconcelos, esposa do Provedor, que exerce essas funções a título voluntário, sem auferir qualquer remuneração por esse trabalho que lhe foi confiado pela Mesa Administrativa.

Interviemos no Lar de Idosos, desde a renovação inicial da cozinha – aquisição de máquina de lavar louça industrial, fogões novos, instalação certificada de gás. Em breve iremos ampliar este espaço, tornando-o mais racional e adaptado às necessidades actuais. Instalámos, também, um sistema de detecção de incêndios, aumentámos o espaço da lavandaria e adquirimos máquinas industriais de lavar e de secar roupa, novas.
Construímos uma rampa de acesso exterior, perfeitamente integrada na leitura do edifício, em betão à vista, para reforçar a segurança dos utentes, bem como temos efectuado, em colaboração com os Bombeiros Voluntários da Murtosa, exercícios de simulação de evacuação em caso de incêndio.

Criámos e implementámos o Serviço de Apoio Domiciliário aos Idosos, com serviço de 24 horas, 7 dias na semana. Deslocamos as equipas de apoio domiciliário a casa dos utentes entre 3 a 5 vezes por dia, para além do apoio médico e de enfermagem e ligação ao médico de família de cada utente, por colaboração protocolar com o Centro de Saúde da Murtosa.

O Patronato de S.José, no Bunheiro, em virtude da saída da comunidade religiosa que o apoiava, está encerrado. Procuramos algumas respostas sociais para implementar naquele espaço. Pareceu-nos ser inadequado à realidade presente o projecto de demolição e construção de uma edificação para albergar a comunidade religiosa e o ATL que lá funcionava. Como tal, aguardamos melhor oportunidade para reavaliar o Patronato de S.José.

Em relação à Casa da Torreira – Colónia Balnear José Maria Barbosa na Torreira – optámos por manter o actual edifício e adaptámo-lo às necessidades presentes. A Torreira, mercê da saída da Santa Casa desta vila e freguesia, equacionou os seus problemas e foi-os resolvendo, desde o nascimento da ASFITA e sua transformação em IPSS, ao aparecimento da Casa da Criança do Instituto Bissaya Barreto. A Santa Casa não teve outra alternativa que não fosse a adaptação da Casa para centro multifunções, albergando zonas para apoio às crianças e idosos que se desloquem à Torreira, salas de formação, espaço exterior para actividades diversas. Foi uma reparação que deixou a Casa em condições dignas de honrar a memória daqueles que a doaram à Santa Casa da Misericórdia da Murtosa.

Encontrámos, também, um projecto, aprovado e adjudicado, para a construção de uma garagem com arrecadação e Agência Funerária onde se encontram as garagens da Santa Casa – junto à capela mortuária do Hospital. Estava orçado em 30 mil contos. Conseguimos travar essa despesa e, com apenas 300 contos, conseguimos adaptar a garagem para que pudesse receber todas as viaturas que a Instituição tem. Inclusivamente o Autocarro que esteve anos a fio ao sol e à chuva.

Adquirimos um total de 4 viaturas novas (2 de 9 lugares e 2 comerciais) para apoio às actividades da Instituição. O Provedor prescindiu de ter uma viatura da Instituição para seu uso pessoal.

Informatizámos os serviços administrativos (Contabilidade, Facturação, Imobilizado, Vencimentos), implementámos uma rede informática interna com acessibilidade externa; implementámos a Internet e uma intranet com acesso a bases de dados internas; concorremos e fomos contemplados com Projectos no âmbito do Aveiro Digital para a modernização de alguns procedimentos ligados ao Apoio Domiciliário e webização de processos do Juíz de Paz da Murtosa (http://paz.misericordiamurtosa.pt). Implementámos um servidor interno e um servidor web. Disponibilizámos formação acreditada pela Inofor às pessoas ligadas a estes projectos e temos feito reciclagens periódicas de procedimentos e reavaliações internas.

Catalogámos informaticamente o acervo bibliográfico que foi oferecido à Santa Casa pelo Dr. José Tavares Afonso e Cunha – um grande Murtoseiro de saudosa memória – sendo possível consultar essa informação a partir da intranet da Santa Casa. Em breve, iremos disponibilizar essa informação via Internet a toda a comunidade interessada, num total de quase 7000 espécies bibliográficas.

Efectuámos um estudo relativo às remunerações do pessoal ao serviço da Santa Casa e percebemos que era necessário ajustar os vencimentos de acordo com as Tabelas de Vencimentos em vigor na União das Misericórdias Portuguesas. Este facto implicou aumentos na ordem média dos 16% em geral, havendo casos em que o aumento ultrapassou os 30% apenas no primeiro ano. Foi um esforço financeiro muito grande, mas que nos pareceu ser correcto já que estávamos a exigir mais qualidade aos nossos funcionários.

Ao longo destes cinco anos de mandato temos reajustado o Quadro de Pessoal, temos contratado diversas pessoas para fazer face ao aumento das necessidades do Lar e das outras valências e temos requalificado o nosso pessoal. Desde acções de formação no âmbito da legislação laboral em vigor, passando pela reclassificação de algumas funcionárias. Temos a consciência de que algumas pessoas não se conseguiram adaptar às novas exigências ou às novas dinâmicas, por isso foram saindo, ou por terminus de contrato, ou por despedimento ou por decisão pessoal.

Igualmente estabelecemos acordo com um médico para a prestação de serviços, evitando-se, assim, a constante deslocação dos utentes ao Centro de Saúde. Só com isto, aumentámos a qualidade de vida dos nossos utentes e a sua paz de espírito, pois todos os dias sabem que têm o médico a quem podem recorrer. Ainda na saúde, alterámos alguns procedimentos e investimos fortemente na higiene e desinfecção. Quando chegámos à Santa Casa fomos alertados para o facto de haver vários utentes com escaras e muitas utentes com infecções urinárias recorrentes. Graças a um esforço muito grande do nosso pessoal ligado à saúde e de um investimento cuidadoso, temos conseguido debelar esses problemas. Desde a aquisição de camas articuladas, colchões anti escaras (pneumáticos), anteparas para as camas dos acamados, a reformulação da distribuição dos utentes pelos quartos, tudo se tem feito para melhorar as condições de quem vive no nosso Lar. Porém, ainda estamos muito longe do óptimo.

Analisámos os valores das mensalidades e percebemos que a Instituição tinha que rever esses valores e efectuar um trabalho de levantamento das situações reais dos seus utentes, pois alguns escusavam-se a pagar os valores exigidos, escudando-se atrás de declarações de pobreza sem fundamento ou em negociações pessoais anteriores. Foram situações delicadas e demoradas que só recentemente conseguiram entrar nos hábitos das pessoas. Registe-se que nunca ninguém foi expulso ou excluído por não poder pagar. Temos, sim, exigido que a verdade seja reposta e cada um assuma as suas responsabilidades.

No âmbito do Património da Santa Casa, temos efectuado o registo de propriedades que foram legadas à Santa Casa por herança, bem como tomámos posse da Casa do Gonçalo Polícia, pondo fim a um longo adiamento desta questão. Terminámos a intervenção na Casa do Silvério Guerra, colocando-a ao serviço dos jovens da Murtosa como atelier de desenvolvimento de artes plásticas, centro de acesso à Internet e ponto de encontro de adolescentes. Conseguimos o registo definitivo de uma propriedade urbana sita no centro da Cidade do Porto e temos acompanhado obras e alterações de valores dos alugueres de alguns apartamentos na cidade de Almada. Estamos a tentar, junto da autarquia da Murtosa, negociar uma solução para o grave problema que é o Lar de Idosos enquanto propriedade urbana com a actual volumetria construída, obra que nunca foi licenciada e que, como tal, ainda não possui licença de habitabilidade. Efectuámos a venda, por hasta pública, precedida de competente autorização da Assembleia Geral de Irmãos, de duas propriedades que não constituíam valor estratégico para a Santa Casa. Efectuámos obras de intervenção na Capela Mortuária, tornando-a mais condigna para o fim a que se destina. Adquirimos 6 sepulturas no cemitério de Pardelhas para dar repouso aos utentes que venham a falecer sem familiares que se interessem pelo seu funeral.

A Mesa Administrativa da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa tem candidatado a instituição a alguns projectos sociais no âmbito do POEFDS. São projectos difíceis, pois lidam com pessoas muito frágeis. Mães desempregadas de longa duração e sem perspectivas de emprego a médio prazo; jovens que necessitam de algum apoio psicológico para ultrapassar as suas dificuldades; pessoas que nunca receberam qualquer tipo de formação sistematizada desde os seus 10 anos de idade; pessoas que não se conseguem inserir no tecido social.

Para quem observa de fora, estas acções podem parecer estranhas. Lidam com pessoas que a sociedade não deseja ver inseridas no seu meio. São pessoas que não têm hábitos de higiene nem de trabalho, que dizem coisas disparatadas em tons de voz inapropriados. São pessoas que se escondem e defendem da sociedade desta maneira. São seres humanos frágeis.
Estes projectos são muito fáceis de criticar e destruir com palavras irresponsáveis que temos ouvido desde o dia em que começaram. Palavras que vêm de pessoas que, pela sua formação ou pela sua responsabilidade social ou política, deveriam ser as únicas a não proferi-las. São palavras que exteriorizam o medo e a inveja de uma sociedade centrada em si mesma e que se fechou aos outros.

O resultado destes projectos é sempre uma miragem difusa. Nunca se sabe o que se conseguiu. Acredita-se que se ensinou alguma coisa, por muito pouco que tenha sido. Espera-se que o fruto venha a surgir na geração seguinte.

A Mesa Administrativa da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa informa os mais preocupados que, apesar de todos os investimentos acima referidos e todas as despesas que temos assumido, as contas da Santa Casa estão saudáveis e os valores que todos têm na cabeça e algumas almas proclamam aos ventos, continuam a existir. Como tal, sosseguem que a Mesa Administrativa não tem delapidado – nem sequer gasto – a “herança” que lhe foi entregue. De modo responsável tem gerido esses valores, pois no dia em que assumiu a gestão da casa deparou com factos bem estranhos, desde valores exageradíssimos em depósitos à ordem (quase 90 mil contos…), completamente desnecessários para fazer face às despesas fixas da instituição, até depósitos a prazo não negociados e de pequena monta, o que prejudicava a Tesouraria da Santa Casa. Para não falar em património segurado por valores ridículos e completamente irrisórios em caso de incêndio ou acidente natural.
Em Dezembro de 2006, estaremos em condições de entregar, intacta e bastante melhorada, a quem vier a assumir os destinos desta Instituição, a Herança que nos foi entregue em Fevereiro de 2001.

A Santa Casa da Misericórdia da Murtosa é um tributo a este Concelho, pois nasceu antes dele e amparou-o no seu desenvolvimento. Ela tem que ser o espelho do seu povo e será aquilo que os seus irmãos e amigos quiserem que seja. Será sempre a consciência do seu povo, naquilo que ele tem de mais puro e sagrado e estará sempre para além dos seus provedores.
A missão da Santa Casa, expressa no seu “Compromisso”, reside na Esperança de uma Murtosa mais simpática.
Espera-se por uma Murtosa um pouco mais solidária, um pouco mais humana. Muito mais aquela antiga Murtosa que sabia abrir a porta aos pobres e lhes dava um naco de pão e uma tigela de sopa.
Aquela Murtosa que fez nascer a sua Santa Casa da Misericórdia.

Murtosa e Santa Casa, 26 de Outubro de 2005

A Mesa Administrativa da
Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa

sábado, outubro 22, 2005

Fim-de-semana... nada como descomprimir de uma semana de trabalho.
Esta é para todos os novos presidentes e para os meus amigos Mocho e Azurara de Mangualde
.

- Prof. Mariano Gago? É o Zé Sócrates. Oh, pá, ajuda-me aqui. Comprei um
computador, mas não consigo entrar na Internet! Estará fechada?
- Desculpa?...
- Aquilo fecha a que horas?
- Zé, meteste a password?
- Sim! Quer dizer, copiei a do Freitas.
- E não entra?
- Não, pá!
- Hmmm... deixa-me ver... qual é a password dele?
- Cinco estrelinhas...
- Oh, Zé!... Poooooo... Bom, deixa lá agora isso, depois eu explico-te. E o
resto, funciona?
- Também não consigo imprimir, pá! O computador diz: "Cannot find printer"!
Não percebo, pá, já levantei a impressora, pu-la mesmo em frente ao monitor
e o gajo sempre com a porra da mensagem, que não consegue encontrá-la, pá!
- Poooooo... Vamos tentar isto: desliga e torna a ligar e dá novamente ordem
de impressão.

Sócrates desliga o telefone. Passados alguns minutos torna a ligar.
- Mariano, já posso dar a ordem de impressão?
- Olha lá, porque é que desligaste o telefone?
- Eh, pá! Foste tu que disseste, estás doido ou quê?
- Poooooo... Dá lá a ordem de impressão, a ver se desta vez resulta.
- Dou a ordem por escrito? É um despacho normal?
- Oh, Zé... poooooo... Eh, pá! esquece... Vamos fazer assim: clica no
"Start" e depois...
- Mais devagar, mais devagar, pá! Não sou o Bill Gates...
- Se calhar o melhor ainda é eu passar por aí... Olha lá, e já tentaste
enviar um mail?
- Eu bem queria, pá!, mas tens de me ensinar a fazer aquele circulozinho em
volta do "a".
- O circulozinho... pois... Bom... vamos voltar a tentar aquilo da
impressora. Faz assim: começas por fechar todas as janelas.
- Ok, espera aí...
- Zé?!... estás aí?
- Pronto, já fechei as janelas. Queres que corra os cortinados também?
- Poooooo... Senta-te, OK? Estás a ver aquela cruzinha em cima, no lado
direito?
- Não tenho cá cruzes no Gabinete, pá!...
- Poooooo... poooooo... Zé, olha para a porra do monitor e vê se me
consegues ao menos dizer isto: o que é que diz na parte de baixo do écran?
- Samsung.
- Eh, pá! Vai para o...
- Mariano?!... Mariano?!...'Tá lá?... Desligou...

domingo, outubro 16, 2005

Centro de Espinho com acesso grátis à Internet através de Wi-Fi

Juntando-se a uma lista cada vez maior de cidades que estão a instalar redes Wi-Fi para garantir acesso à Internet aos seus cidadãos, a Câmara Municipal instalou esta semana uma série de hotspots. Na próxima semana a rede começa a ser alargada a outras áreas do concelho, mantendo-se para já o acesso gratuito.

Para já a rede é acessível no centro de Espinho, mais propriamente no parque João de Deus. Os munícipes apenas têm de possuir um computador portátil com placa de rede sem fios ou um Pocket PC com o mesmo sistema e estabelecer a ligação.

O projecto Espinho Wireless deverá ainda ser alargado às escolas e às salas de aula, numa fase mais avançada. Estão igualmente previstos serviços de valor acrescentado, tais como a instalação de quiosques informativos em vários locais públicos do concelho, a comunicação de voz via Internet, a videovigilância e a criação de campus virtuais nas escolas, refere Fernando Oliveira, gestor de produto, em declarações ao TeK.

“O serviço será grátis na fase de arranque, prevendo-se, no entanto, que venha a ser pago, embora possa haver serviços de acesso gratuito”, afirmou o presidente da Câmara, José Mota, ao Jornal de Notícias.

A ideia não é nova, embora o Jornal de Notícias afirme que este é o primeiro município wireless, existindo já diversas iniciativas semelhantes a nível internacional e mesmo nacional. Ainda este ano as Câmaras Municipais do Barreiro e de Guimarães comunicaram a criação de espaços gratuitos de acesso à Internet em banda larga através de redes Wi-Fi, juntando estes hotspots às redes comerciais já existentes no país.

(In http://tek.sapo.pt/4M0/599658.html)

Será uma ideia interessante a implementar em Pardelhas, por parte de alguns cafés... e na Torreira durante o verão.
A EBI da Torreira tem uma rede wireless que cobre todo o edifício, de modo que os docentes podem usar os seus portáteis em qualquer sala da escola, podendo aceder às bases de dados da escola, à internet e aos restantes serviços disponíveis.

terça-feira, setembro 27, 2005

Lectio Brevis

O ano lectivo lá vai decorrendo com saltos e sustos e muita gritaria. Voam objectos de ausência dos mais diversos tipos, desde atestados médicos, consultas em ambulatório, filhos com vírus, pais idosos, creches com horários, centros de dia com horários, viagens com atrasos. Tudo serve para desculpar a ausência.

Os horários-semanários dos docentes contêm algumas novidades, desde tempos para substituir os que nos atiram os objectos de ausência, a tempos para reforço das aprendizagens obtidas nas aulas e a clubes para ocupação e enriquecimento dos alunos.

Ninguém os quer… os alunos detestam as substituições… os pais querem os meninos do 1º ciclo em casa o mais cedo possível… os professores sentem-se “coisas” nessas actividades.

Esta gestão autonómica que nos foi oferecida pelo Ministério veio cheia de veneno. Os professores rejeitam o presente e espezinham-no. Os alunos não o desejam.

A armadilha está lançada e todos caiem nela. Os alunos provam que não querem aprender nem reforçar essas aprendizagens. Muitos pais não desejam que os filhos tenham mais tempo na escola, pois os filhos dizem que não querem. Os professores alegram-se pois provam que a opção/imposição do ministério é indesejada por todos.

Daqui a alguns meses o Ministério irá mostrar que estamos muito enganados, pois ir-nos-á esfregar na cara os resultados dos diversos exames… e então iremos perceber que as vítimas são os alunos e os carrascos os professores.

Solução?

As escolas DEVEM escolher os seus professores e depois prestar contas e assumir as consequências. Acabem com os quadros de escola e os de zona pedagógica. Assumamos a docência como profissão e não como emprego seguro.

Senhores Secretários de Estado: contratos de autonomia para as escolas. Já!

sexta-feira, setembro 16, 2005

O futuro (ainda) pode ser hoje

Talvez soframos da síndrome da “galinha da minha vizinha”. Não duvido disso.
Todos achamos que os outros têm mais e melhor que nós. Todos ambicionamos o que os outros têm e sempre menosprezamos o que é nosso.
Menosprezamos as nossas carreiras, as nossas conquistas, as nossas competências e as nossas capacidades. Diminuímo-nos perante todos os outros e achamos que somos sempre injustiçados em relação ao resto do mundo.

Este fenómeno aparece em todas as profissões e carreiras: os médicos da aldeia invejam as carreiras dos especialistas dos grandes consultórios da cidade; os professores universitários invejam as carreiras e o dinheiro dos professores estrangeiros; os autarcas das vilas mais pequenas apelidam os das cidades de “safados”; os professores do ensino básico e secundário invejam os arquitectos e engenheiros independentes; e assim sucessivamente.

Temos uma cultura da inveja, diz-nos José Gil, no seu ensaio “Portugal hoje: o medo de existir”.

Reparemos neste arranque de ano lectivo.
Não me interessa se as bases programáticas foram lançadas pelo Professor Eduardo Marçal Grilo, ou se o foram pelo Santana Lopes ou pela equipa do José Sócrates. O facto é que este ano lectivo arrancou há muitos meses atrás, aquando do concurso para provimento dos quadros das escolas e das zonas pedagógicas, em Janeiro. E arrancou sem soluços. Os concursos decorreram muito bem, muito embora os lugares vagos sejam cada vez menos, resultado da demografia e não das políticas educativas.

Passados alguns meses, teve lugar o concurso para as necessidades cíclicas, e o processo decorreu novamente com normalidade e sem reclamações ou erros grosseiros.

A única novidade de monta foi a de lembrar aos docentes que o seu horário de trabalho era igual ao da maioria dos portugueses. Trinta e cinco horas. Algo que todos sabiam havia muitos e muitos anos, mas que todos reduziam aos tempos lectivos, subtraindo as funções que se-lhe pudessem somar para reduzir a permanência na escola. Aluno irrita.

Este governo legislou no sentido de corrigir algumas assimetrias laborais.
Podemos acusá-lo de continuar a colocar os amigos e dependentes em lugares bem remunerados, ou em funções estranhas para o comum do cidadão. Podemos acusá-lo de tudo o que desejarmos, pois ele tem-se “posto a jeito”. Mas tem a virtude de chamar algumas das coisas pelo respectivo nome.

Nem todas as escolas terão as condições necessárias para o completo cumprimento dos prolongamentos de horários ou para que alguns professores possam permanecer muito tempo em funções não lectivas nesses espaços degradados. Mas isso não pode ser um facto para impedir – ab se – que o universo das escolas não possam aplicar os normativos que já existem há mais de 4 governos (em Portugal já vamos contando por Governos… até a assembleia da república tem dificuldade em contar as suas legislaturas…).

Se numa metrópole os pais investem muito nos filhos, oferecendo-lhes toda uma panóplia de apoios curriculares, actividades de enriquecimento cultural, desportivo e social, o facto é que a esmagadora maioria dos alunos deste país sofre de tentações de abandono escolar, não vê a necessidade de prosseguimento de estudos, têm pais que os incentivam a abandonar a escola e raramente se aproximam da escola para colher informações dos seus filhos.

Para esses, a escola e os professores têm que ser TUDO. Para esses, todas as horas são poucas. Para esses todos os professores têm que ser excelentes mestres e têm que estar muito presentes nas suas vidas.

Ofende a minha profissão e o meu conceito de carreira ouvir lamentações de alguns professores que se queixam do aumento de horas na escola ou que dirimem se essas horas a mais são para os alunos ou para o polimento das cadeiras das salas de professores. Ofende-me que tentem desvirtuar uma boa ideia e que tentem roubar aos alunos algumas das horas que eles bem precisam e merecem.

Não duvido da incompetência da nossa ministra e seus secretários e a sua completa ignorância do terreno em que as escolas vivem o seu dia-a-dia. Eles nunca foram professores… foram sempre doutores ou funcionários dos respectivos partidos. Eles partirão para novos voos e para funções mais altas logo que possível. Eles não souberam definir os horários das escolas, pois eles nem sabem o que isso seja. Eles não deram indicações aos órgãos de gestão, pois eles nunca estiveram num órgão de gestão. Eles gerem ex-cathedra aquilo que nunca conhecerão. Maior despotismo iluminado nunca houve em terras da rainha D.Maria.

Porém, têm uma virtude interessante: mostraram-nos os nossos erros. Os seus berros e exaltações nas reuniões públicas com os órgãos de gestão mostraram aquilo que milhares de pessoas pensam de nós: somos incapazes. Temos sido incapazes de assumir a nossa profissão, de a professar. Temos sido incapazes de defender os nossos alunos e de aumentar a qualidade do nosso ensino. Temos estado numa letargia pavorosa sempre à espera de soluções “deus ex machina” para o ensino. Temos estado sempre ansiosos à procura de um bode expiatória para safar a nossa pele.

Se os professores acordarem com estes abanões e perceberem que têm o mundo na mão… não serão precisas greves ou manifestações. Não precisaremos de sindicatos ou de ministros. Temos os alunos. Temos o futuro de Portugal nas nossas mãos. O Sócrates tem apenas o orçamento, o nosso tempo de serviço. Coisas limitadas no tempo. Os professores têm o futuro. Só nós podemos moldar esse futuro.

E disso, acreditem, o Sócartes vai roer-se todo de inveja.

Da campanha

Depois do meu penúltimo post, a edilidade "deliberou" conceder um subsídio de 4000 euros à EBI da Torreira para pagamento das despesas de funcionamento do ano lectivo 2004/2005 de 12 turmas do Pré-Escolar e 1º Ciclo do Ensino Básico.

(Mais que isso custa a limpeza dos 3 gabinetes e WC do 1º andar da CMM...)

Autarcoblogs

É interessante ir lendo as guerras entre o Alberto Souto e os elementos do Bloco de Esquerda em Aveiro.
São momentos de alguma boa disposição... no mínimo. Pelo menos fica a certeza de que Alberto Souto tem medo que se tolhe todo com o Bloco. Quer dizer: quem escreve os textos do Alberto Souto, claro...

Por Estarreja vão aparecendo uns laivos de movimentação internet.

Na Murtosa... bom... "only the dead and the dying in my little town"... diria Paul Simon.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Mais um ano. Que seja óptimo!

Eis-nos a iniciar um novo ciclo na EBI da Torreira!
Mais um ano lectivo que se inicia, com a eterna problemática dos professores que chegam pela primeira vez a esta escola.
Pelo 5º ano lectivo, consecutivo, estamos a reiniciar a instalação da escola… Nada ficou dos projectos do ano anterior. O Projecto Educativo continua a ser criado, já que em cada ano sofre algumas alterações ligeiras, mas nunca se pode dizer que vai ser executado quando se sabe que no ano seguinte não sobra qualquer professor para lhe dar continuidade.
Às tantas, a ideia de Projecto Educativo até nem deve passar disso mesmo: uma ideia… devo ser eu que me preocupo a mais com isso.
A rotatividade do corpo docente até tem os seus aspectos positivos: novos actores, novas ideias, novas abordagens, novos projectos para cumprir. Fica a impotência de não podermos fixar os professores que querem ficar e que deveriam ficar pelo menos um ciclo completo.
Paciência.
Temo terrivelmente a “autarquização” do ensino básico!
A minha escola, sendo uma Escola Básica Integrada, sofre desse mal. O ensino Pré-Escolar e o Primeiro Ciclo do Ensino Básico, com larga fatia de responsabilidade da autarquia nas suas despesas de funcionamento, já teriam sido encerrados se estivessem dependentes desse apoio.
O ano lectivo de 2004/2005 já terminou e está em arquivo morto, e a EBI da Torreira ainda não recebeu um cêntimo para as despesas de funcionamento desses níveis de ensino.
Vale-nos o Orçamento do 2º e 3º ciclos e a imaginação dos professores, pais e alunos para a geração de algumas receitas.
Até a água! Regámos o jardim – que é público – e a autarquia ameaça-nos com o corte de água se não pagarmos a conta do mês passado. Ora toma…
Seria justo encerramos o Pré-Escolar e o 1º CEB até que nos paguem o que nos devem?
O problema é que temos vergonha e não estamos em campanha… Por isso, manteremos tudo a funcionar em pleno. Nem que tenhamos de pedir de porta em porta uma ajuda aos amigos da escola. Se nos cortarem a água, pediremos aos Bombeiros um tanque para dar banho aos alunos que necessitem.
Tudo se há-de resolver.
Pode parecer piada, mas é facto.
As escolas mendigam o que lhes é devido. Sempre assim foi.
Alguns políticos prometem, reúnem-se com quem querem e prometem. Pedem contas e relatórios e prometem. Garantem as promessas e depois afirmam que não há enquadramento legal ou há orientações da AMNP, ou há necessidade de orçamentos rectificativos ou é melhor esperar pelo orçamento seguinte, ou só podem atribuir as verbas em questão por subsídio e isso carece de autorizações de assembleias, ou não há delegação de competência para a assinatura, ou milhentas outras coisas, cuidando que os seus “alvarás” lhes conferem maior importância que aqueles que lhes estendem a mão a pedir ajuda para educar 400 crianças.
As escolas não são apenas edifícios com janelas de alumínio lacado, recentes. São pessoas, são salas para limpar, são alunos para banhar, roupas para lavar, refeições para fornecer, livros para comparticipar, tecnologias para desenvolver, máquinas para manter, electricidade, água e gás para pagar. Coisas simples. Coisas para as quais não se necessita de “alvará” para serem compreendidas.
Coisas da vida de quem vive e tem amor aos que delas vivem.

quarta-feira, agosto 31, 2005

Blog Day - 31/08/2005

O Lado Esquerdo
O Blog do Arsélio de Almeida Martins.
Poesia, Artes, Política, Sociedade, Matemática… no fundo, no fundo: apenas Humanismo.


Dias com Árvores
Basta ler para se ficar mais interessado e sensibilizado para a problemática das árvores nas nossas cidades, vilas e aldeias. Num país em que todos querem ser os reis do betão e do asfalto, sente-se alguma esperança ao ler este blog.


Marretas
O nonsense num país que se assume demasiadamente sério para a realidade em que vivemos. E para não perdermos a noção de ridículo… de nós mesmos.


Diário de Bordo
O Blogo do João Martins. Um puto com pinta e com muita música dentro de si.


Escola da Ponte
Uma experiência de ensino diferente em Portugal. O exemplo de como uma comunidade pode defender o seu ensino e os seus alunos. Um exemplo a ser seguido noutros locais,

domingo, agosto 28, 2005


Blog Day

O que é o BlogDay?
BlogDay foi criado na convicção de que os bloggers deverão ter um dia dedicado ao conhecimento de novos blogs, de outros países ou áreas de interesse. Nesse dia os bloggers recomendarão novos blogs aos seus visitantes.

O que acontecerá no BlogDay?
Durante o dia 31 de Agosto, bloggers de todo o mundo farão um post a recomendar a visita a novos blogs, de preferência, blogs de cultura, pontos de vista ou atitude diferentes do seu próprio blog. Nesse dia, os leitores de blogs poderão navegar e descobrir blogs desconhecidos, celebrando a descoberta de novas pessoas e novos bloggers.

BlogDay instruções:
1. Procure 5 novos Blogs que ache interessantes.
2. Notifique por email esses 5 bloggers de que serão sujeitos à sua recomendação no BlogDay 2005.
3. Escreva uma pequena discrição dos blogs e o link para os blogs sugeridos.
4. Publique no BlogDay (no dia 31 de Agosto) esse post.
5. Junte a tag do BlogDay usando este link: http://technorati.com/tag/BlogDay2005 e um link para o site do BlogDay: http://www.blogday.org/

Comemore!

segunda-feira, agosto 22, 2005

Um concelho dendrófobo

Sublinho o interesse do blog "Dias com Árvores".
Neste momento em que vários candidatos andam a tirar apontamentos em guardanapos ou a mostrar as meias brancas na tia vitória, é uma forma de arranjar alguns argumentos inteligentes. O difícil será saber ler, claro.

segunda-feira, agosto 15, 2005

Um regresso difícil

Creio que na história de Portugal nunca um primeiro ministro terá tanta dificuldade em voltar a encarar os portugueses depois do seu período de férias. Principalmente os que andam a combater os incêndios e os que vêem as suas casas a arder.
Definitivamente acabou-se-lhe o estado de graça e todos os outros estados. Creio que os Portugueses se sentem traídos.
Como nunca.

domingo, agosto 14, 2005

Why not you too ?

E pronto... Portugal condecorou os U2, de camisa e T-shirt, óculos escuros e chapéu.
Presumo que tenha sido um momento alto no consulado do nosso Presidente da República. Para os U2 deve ter sido um espanto e, logo mais, quando regressarem ao seu avião particular, deverão andar aos tombos a rir dos saloios que lhes deram umas medalhas.

sexta-feira, agosto 12, 2005

The gates of Mordor

Pessoal de Estarreja:
Expliquem-me, por favor, aquela dos portões na rotunda.
Não deixa de ter a sua piada, mas não se percebe a ideia. Não creio que seja uma coisa muito profunda, mas haja quem explique o conceito por detrás daquilo.
Acaso uma nova ideia de portagem virtual?

A Praça da Alegria na Torreira

Foi bom ver a Torreira de outro ângulo.
Foi bom ver as gentes a encher a praia e a alegria nos rostos, mesmo com o calor.
Foi bom ver os jovens e os animadores do Projecto Leme da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa.
Foi bom ver a Murtosa na TV.
Faltou ver a outra face da medalha. A verdadeira Torreira.

Salto com vara: ouro e recorde mundial para Yelena Isinbayeva

Afinal o tal "Vara" sempre serve para alguma coisa... até já anda a dar ouro...
A desculpa do ministro é que merece entrar na Wikipedia. "É licenciado e está nos quadros da CGD há mais de 20 anos." Atenção pessoal licenciado da CGD: o vosso dia há-de chegar!

quarta-feira, agosto 03, 2005

Só se morre quando se é esquecido




Digam o que disserem os diversos sistemas religiosos, a mente humana não aceita pacificamente o desaparecimento físico de alguém a quem se esteve ligado. Revoltamo-nos com a insensibilidade da morte e buscamos justificações para tão violento e desumano momento. Sofre-se interiormente um choque inexplicável e busca-se compreender, tenta-se acusar algo ou alguém, fechamos os olhos rezando que tudo não passe de um erro apenas. Fica-se com a frieza do facto e a solidão da lembrança.

O António Porfírio Nunes de Almeida – Rubirosa para os amigos e conhecidos – deixou-nos. Espantosamente partiu sem se despedir de ninguém. Deixou amigos plantados à sua espera no caminho. Olha-se o horizonte em busca dele e ele não surge.

Quem o conhece sabe quem ele é e conhece-lhe o jeito de ser. Relembram-se os momentos partilhados com ele e com a sua alegria contagiante.
Lembram-se as peças de teatro, as cantigas, os bailaricos, as piadas. Lembra-se a disponibilidade do Porfírio e a sua incapacidade para dizer “não” aos amigos. Por isso mesmo é maior ainda o espanto e a dor desta partida inoportuna, sem dizer “até já, amigos!”. Faltou essa palavra de amigo. Espera-se por ela.

O Porfírio marcou a Murtosa porque cresceu com ela. Nunca lhe virou as costas e ajuda-a a crescer ao longo dos anos. Encontramo-lo na génese de alguns dos momentos que marcaram esta terra, desde os Bombeiros, o PSD, a Igreja de Pardelhas, o Salão Paroquial de Pardelhas, lado a lado com outros tantos murtoseiros disponíveis, alguns dos quais também partiram sem dizer adeus aos amigos.

Vimo-lo a acompanhar a Santa Casa nas suas festas, defendendo o nascimento do Hospital, o crescimento do Lar de Idosos, acompanhando o dia a dia desta Instituição, servindo na Mesa da Assembleia Geral dos Irmãos. Sempre disponível. Sempre sorridente, mesmo quando a sua vida sofria momentos amargos, sem nunca virar as costas aos seus amigos de sempre.

Só se morre quando se é esquecido.
Porfírio, ganhaste um lugar na memória de muitos.
Jamais morrerás.



sexta-feira, julho 22, 2005

Saia mais um, com muito molho!

Digam o que disserem do tipo, mas irrita muito saber que o senhor se reformou milionariamente ao fim de 5 anos de intenso labor, foi para o governo lixar-nos a todos, e cansou-se ao fim de 4 meses. Será que agora vai requerer outra reforma...?
Entrámos na silly season com muita garra:
- Troca de ministros;
- Marques Mendes na TV;
- João Jardim impune;
- Freitas em tabu;
- Soares a ser empurrado para a presidência;

quinta-feira, julho 21, 2005

Mais um anito

De facto, eis que passa o segundo ano de idade deste Blog.
Foi um ano de relativamente pouca produção, mais por preguiça e desmotivação que por falta de temática.
Aproximam-se alguns dias para descansar das tarefas habituais e pode ser que os textos que andam a circular nas veias comecem a sair aos poucos.

Sobre a Murtosa?
Sobre o ensino?
Só estes dois temas, e ligando-os, então!, darão para algumas noitadas de texto e dores de cabeça nos dias seguintes.
Da Murtosa pouco a dizer... estradas renovadas, ideias velhas, gente a bater portas por considerar as rotundas secundárias à defesa dos vestígios culturais da vila. Esquemas de poder a relembrar o senhor presidente do conselho...

Do ensino... ordens para revolucionar o estar no ensino e na escola, com os alunos e pelos alunos. Mas tudo na mesma na velha e gasta estrutura curricular; alunos a fugir da escola para ir fazer dinheiro; professores (alguns) a optar pelo atestado médico em vez de optar pela dignificação interna da carreira. Muito mais iremos ler, mas sempre contra os professores, claro.

Durante este segundo ano de vida optei por anular a possibilidade de comentários a estes textos, pela simples razão de me parecer que os comentários produzidos em nada contribuiam para o esclarecimento de ideias ou de témáticas. Reduzindo-se a "concordo", "acho bem", ou a pedir contas pelas minhas opiniões, creio que o meu tempo de blog é demasiadamente escasso para ler ou responder a essas intervenções. Quem quiser mais ou menos esclarecimentos, pode usar o meu email.

Da cena blogueira murtoseira há um balanço muito positivo de massa crítica de jovens interventores e outros menos jovens que vão aparecendo à boca de cena. Vamos esperar que "levedem" um pouco mais para que daqui a um ano possamos separar o trigo do joio e perceber que rumo seguirá a tecnologia de texto na Murtosa. É sempre positiva a intervenção cívica, mormente numa terra como a nossa em que todas as ideias são necessárias.

domingo, julho 03, 2005

Do Aveiro Digital à Humanização

Durante os dias 1, 2 e 3 de Julho decorreu no Pavilhão de Feiras e Exposições de Aveiro a Exposição dos Projectos do Programa Aveiro Digital.

Foram 3 dias de intenso trabalho de partilha, discussão, análise e de reavaliação das tarefas desenvolvidas por cada um dos parceiros. Foram apresentados os trabalhos desenvolvidos até esta data e mostrados os pontos fortes e fracos de cada projecto. Estes dias serviram para uma verdadeira autoavaliação do estado dos projectos.

Percebeu-se a qualidade que enforma os diversos resultados apresentados e apreendeu-se o valor, interesse e a sustentabilidade futura das ideias que estão a ganhar força no terreno.
Para além das palavras ouvidas da boca do senhor ministro da ciência, tecnologia e ensino superior, Professor Doutor Mariano Gago que aponta o futuro como sendo um tempo de qualificação dos cidadãos, inseridos numa rede comunitária de aprendizagens partilhadas e colaborativas, vimos ideias de como o amanhã pode assumir uma qualidade humana de nível superior.

Muitos projectos procuram a implementação de soluções informáticas que permitam que os seus beneficiários acedam a novos serviços de forma mais célere, transformando esses serviços sociais em realidades mais transparentes e eficazes. Esta mutação de hábitos permitirá um acréscimo de cidadania, já que novos processos conduzirão, certamente, a novos cidadãos.
Havendo uma tão clara aposta nas cidades e regiões digitais dos diversos governos, o exemplo de Aveiro deve ser tido em consideração na formatação de futuros modelos de gestão e de orientação programática.

Aveiro, mercê da sua Universidade, da PT Inovação, da Associação dos Municípios da Ria, das colectividades, tecido empresarial, escolas e instituições, tem sido pioneira na busca e experimentação de tecnologias. Para a história ficam os DTS (Demonstradores de Tecnologias e Serviços) da PT (CET), a BBS RIA, o WOLF, o projecto TRENDS, o FORMARE, o Prof2000 e muitos outros que foram servindo de alicerce aos dias de hoje.

Nada surge do nada.
Tudo nasce de algo.

A realidade do Aveiro Digital é a coroa de glória de quem apostou uma carreira e uma vida na inovação, na cidadania responsável e partilhada, e que tem tido sempre a visão do que deve ser a vida humana imersa na tecnologia.

Importa, agora, caríssima Engenheira Lusitana Fonseca, o próximo passo lógico: a aposta nas redes humanas como garantia de sustentabilidade de todos os projectos que hoje temos a funcionar.

Importa apoiar e estimular o aparecimento de soluções para a criação de respostas sociais, também elas transparentes e modernas. As autarquias estão envolvidas na criação das suas cartas sociais, na descoberta da sua rede social. O Aveiro Digital deve reflectir nesta realidade e, depois de termos a cartografia digital implementada, poderá estimular a criação de redes intermunicipais de solidariedade e de cidadania.

A capacidade técnica existe – está patente nos projectos existentes. A rede colaborativa já deu os primeiros passos – basta ver o que os 11 municípios da AMRIA conseguiram realizar em tão pouco tempo. Precisamos, agora, do impulso criador da rede humana da AMRIA.

Era isto o que as minhas poucas palavras quiseram transmitir no dia 2 de Julho e que não conseguiram tão claramente.

terça-feira, junho 21, 2005

Excitações de poder

Os sindicatos, numa excitação de poder, decretaram greve geral de professores, dizendo que coincidia com os exames nacionais.
A ministra da educação, numa excitação de poder, decreta mobilização geral dos docentes, suspende actividades lectivas nas escolas, ameaça soltar a inspecção em cima de todos os desobedientes, afirmando defender os alunos e as famílias.
Para acalmar o pó, o director regional de educação do centro manda comunicados atrás de comunicados reiterando as ameaças da ministra e corrigindo os diversos comunicados que a ministra ia corrigindo ao longo dos dias.

As escolas ficam espantadas com tanto “serviço” em tão pouco tempo e, num encolher de ombros habitual, prosseguem a sua vida normal.
Os exames realizaram-se à hora normal com os professores normais.
As famílias, que a ministra queria proteger, vêem-se a braços com os filhos não examinandos em casa todo o dia.

Para acalmar o pó, o director regional de educação do centro, pelas 22:00 do dia 20 de Junho de 2005 manda outro comunicado a informar que as escolas que possam funcionar bem nesse dia, deverão (deveriam???) funcionar em pleno sem paragem das actividades lectivas.

Bem, se há gente que criticou e critica o PREC de 74/75, devo dizer que este dinâmico conjunto de acções “acção/reacção” ultrapassa em anos-luz o dinamismo do tal PREC.

Assim, senhores gestores da educação nacional e regional, não nos vamos entender. Se querem ajudar as escolas, deixem-nas funcionar normalmente, pois os professores, apesar da vossa impressão, são pessoas normais e responsáveis e raramente agem a pedido dos sindicatos. Estas acções/reacções só provam que Vs.Exªs. nunca estiveram a trabalhar numa escola do ensino básico ou secundário da rede pública e, como tal, nem imaginam como funcionam e quais os seus dinamismos e culturas.

Querem um conselho?
Deixai os gabinetes e vinde às escolas, sem a TV e os jornais e sem os assessores que vos escondem as verdades. Melhor: concorrei para tentar dar aulas numa escola e para conhecer a realidade que quereis governar. Certamente governaríeis melhor ou, pelo menos, demitir-vos-íeis mais cedo.

segunda-feira, junho 13, 2005

1923-2005 - Eugénio de Andrade

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

domingo, junho 05, 2005

Divulgação

No âmbito do Projecto Aveiro Digital, a Santa Casa da Misericórdia da Murtosa candidatou-se a dois projectos inovadores.
Um, o P@Z (http://paz.misericordiamurtosa.pt) está em velocidade de cruzeiro e já vai permitindo consultas a algum dos materiais que constam da base de dados.
Outro, o SAD-SOS (http://sad.misericordiamurtosa.pt) está a dar os seus primeiros passos, mas já conta com 4 importantes recursos humanos que lhe darão corpo e consistência.
Optámos por recrutar jovens licenciadas, já que o trabalho que se pretende conseguir é dar apoio a distância a pessoas idosas que se encontram isoladas em suas casas e que, num primeiro momento, precisam de dar conta dos seus medos e receios. Esta equipa não se esgota neste trabalho. Assim, criámos um Blog para ir dando conta destas actividades e permitir que os familiares que estejam ausentes da Murtosa possam acompanhar o nosso trabalho. Podem consultar o blog em http://sad-sos.blogspot.com
A página da Santa Casa (http://www.misericordiamurtosa.pt) está em preparação para ser apresentada em breve.

quinta-feira, maio 19, 2005

Do direito a ter opinião

Os blogs vieram despertar algumas consciências para o direito à opinião dos cidadãos. Tal como no crescimento das crianças, há várias fases de cidadania. Neste momento, a Murtosa bloguística estará numa fase de descoberta de si mesma, com tudo o que isso significa de descoberta, de abuso, de confusão, de irritabilidade. Seguir-se-lhe-á outra fase: a fase da afirmação de si mesmo. Nessa altura iremos perceber quem tem motivação para continuar a emitir a sua opinião e a defendê-la de forma construtiva e positiva.
Estamos num tempo de clarificação de motivos e amadurecimento de ideias e de posturas perante uma sociedade que vai abrindo à novidade.
É sempre positivo ler a opinião de outros e haver espaço para o debate de ideias e de posições perante diversas temáticas. Mais que exercícios narcisistas, os blogs podem ser espaços de tertúlia diversificada, de acordo com os gostos de cada autor.
O factor “anonimato” pode ajudar ao crescimento de quem prefere manter-se atrás das cortinas, sem que isso possa ser sempre condenável, desde que em doses e tempos mínimos. O eterno esconder-se não será desejável para o exercício de uma cidadania responsável e interventiva.
O facto é que nunca teremos a unanimidade à nossa volta. Isso é muito bom. A sociedade deve saber dividir as águas, criticar o criticável e aplaudir o positivo que possa existir em pessoas com quem até nem simpatizemos muito. Reparem que há muitos blogs que não permitem espaço de diálogo e há outros que são acerrimamente censurados pelos seus administradores.
Tudo isto é salutar. Ter opinião, ter sentido crítico, saber estar em sociedade, saber viver na Murtosa e saber renovar esta terra.
Se os blogs ajudarem esses objectivos, venham mais cinco!

quinta-feira, maio 12, 2005

Sem comentários

Este texto foi retirado do site do Expresso
e é da autoria do Professor Nuno Crato, figura respeitável do ensino e divulgação da ciência portuguesa.

Não, não é uma cena de filme de terror. É difícil de acreditar, mas foi o que acabou de se passar numa acção de formação de professores que terminou ontem em Lisboa, na Casa Pia.

Duas senhoras fizeram uma análise astral dos presentes e chegaram à conclusão que havia uma falta de «elementos terrenos». Então, para compensar essa evidente deficiência e criar «energias positivas» na sala, pediram aos professores que se descalçassem, de forma a ficarem em contacto mais directo com o solo. No escuro, aumentando o efeito de comunhão com «a Terra», os formandos, de olhos fechados, foram incitados a gritar, com os braços erguidos, para criar energias positivas que se propagassem pelo grupo.

As monitoras explicaram, imperturbáveis, que essa técnica podia ser aplicada nas aulas e ser benéfica para os alunos. Explicaram outras coisas, também. Uma senhora «graduada em astropsicologia», em simbiose com uma outra, que se apresentava como «terapeuta holística e energética», deram várias «dicas» para melhorar o ambiente da sala de aula. Explicaram que, nos exames, seria bom que os alunos vissem objectos de cores azuis e vermelhas. E discutiram as cores que são mais benéficas às diversas aprendizagens. Azul e amarelo para língua materna, como toda a gente sabe, e verde para as ciências. Pois claro...

Explicaram também como se podia fazer a «leitura e limpeza da aura» e mostraram gestos que se podiam praticar nas costas dos alunos, sem lhes tocar e sem eles repararem, mas que teriam um impacto extraordinário na sua «aura». Como isso é importante para o sucesso no ensino! Que estranho que não seja mais usado...

Custa a crer, mas tudo isto se passou num seminário que se intitulava «Dicas para ser melhor professor(a)» e que foi promovido pela Pró-Ordem dos Professores. É um dos «seminários alternativos que têm todo o cabimento», como o defendeu o presidente da dita Pró-Ordem, que disse estar assim a contribuir «indubitavelmente para a melhoria do desempenho da profissão docente».

Tudo isto é inacreditável, mas sente-se o leitor para o que segue. É que, para assistirem, os professores foram dispensados de serviço, sem penalização no salário. Mas os alunos ficaram sem aulas. Tudo ao abrigo da lei. Pergunta-se porque há insucesso escolar. Não seria de começar pelo insucesso no sistema de formação de professores?

terça-feira, maio 03, 2005

Não mata, mas cansa...

“- Por favor venha à minha sala que está lá um menino que não quer sair e que já me ameaçou e tudo.”
Foi assim que fui convocado a deslocar-me a uma sala onde um ganapo de 11 anos fazia frente a uma professora licenciada, profissionalizada e com idade para ser mãe do miúdo.
Que mal fiz eu a Deus ou ao mundo para ter que aturar disto?
Quem forma os professores e os profissionaliza de modo a não terem uma única gota de autoridade?
Quem se apelida de “professor” e logo de seguida teme utilizar a autoridade? Estranho mundo o nosso.
Circula nos sindicatos e por entre professores a teoria de que a legislação portuguesa não permite o exercício da autoridade pelos professores.
Honestamente, alguém que me explique o que se espera da legislação para que um docente tenha ou não tenha autoridade dentro da sua sala de aula.
Será que um pedaço de papel irá obviar à falta de autoridade da minha colega perante o tal garoto de 11 anos?
Será que eu tenho um papel a mais que ela? O facto é que mal me viu, o puto meteu o rabo entre as pernas e foi o mais ordeiro do dia… Mas eu não tenho nenhuma lei diferente daquela que rege a profissão da senhora que me mandou chamar à sua sala.
Não percebo.
Circula na imprensa o facto de que o ministério da educação não consegue controlar as faltas dos seus docentes.
O primeiro ministro veio, urbi e orbi, proclamar que no próximo ano lectivo acabar-se-ão os “furos” dos alunos.
Alguém que me explique como.
Alguém que me explique como é que há professores que passam a vida em congressos, encontros, reuniões de editoras, doenças estranhas, faltas por conta de férias, acções de formação em horário lectivo, reuniões sindicais, ausências inesperadas. E nenhum desses docentes acha isso anormal. Como é que há docentes que afirmam não poder estar numa reunião de conselho de turma porque têm que ir ao médico com alguém da família, ou que já tinham planeado outra coisa para essa data, ou prevêem estar “de atestado médico” nessa altura…?
Não são os “PROFESSORES” que têm este comportamento, são os que distorcem a profissão e que a assumem como uma fonte de rendimento a somar a outras fontes paralelas.
Senhor Primeiro Ministro em estado de graça e com maioria absoluta no parlamento: crie legislação que outorgue aos Órgãos de Gestão da escolas poderes para despedir professores que não são professores, que permita contratar professores que queiram e saibam ser professores e que saibam exercer a “auctoritas” de forma responsável e que saibam ensinar e formar, permitindo a estabilidade das escolas e a melhoria da qualidade do ensino. De outra forma, o ensino continuará a arrastar-se de desculpa em desculpa e os bons professores deixarão de ter incentivo para continuar a melhorar.

segunda-feira, abril 25, 2005

Diz-me o que lês...

O desafio veio de dois blogs… do Arsélio e da Celine. Assim, respondo a ambos e deixo em aberto o convite a quem lhe quiser pegar. Confesso que já li muito mais do que aquilo que ando a ler recentemente. Velhice? Falta de organização do meu tempo? Certamente os dois.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Espero que essa ameaça nunca surja no mundo civilizado, muito embora, ao longo dos tempos, muitos “actos de fé” com livros tenham sido a alegria de alguns ditadores. Os “ismos” embirram sempre com as obras literárias e com o pensamento.
A minha memória não daria para decorar um livro inteiro… teria que confiar noutras tecnologias fáceis de esconder, ou atirar-me para o meio da fogueira para salvar alguns livros.


Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por uma personagem de ficção?
Na minha infância, o meu companheiro constante foi o Charlie Brown. Não sei se me identifiquei com ele, mas sempre o assumi como um tipo interessante.
Hoje, quando leio, há sempre alguém no livro que me atrai, ou então desisto do livro.

Qual foi o último livro que compraste?
”Cadernos de Temuco” de Pablo Neruda
“Portugal, hoje: o medo de existir”, José Gil
“Anjos e demónios”, Dan Brown
“A misteriosa chama da rainha Loana”, Umberto Eco


Qual o último livro que leste?

Li o “Viver para contá-la” de Gabo.

Que livros estás a ler?
Ando a ler, compulsivamente, a “Lenda de Martim Regos”, de Pedro Canais (uma ficção portuguesa na senda de “Baudolino” de Umberto Eco)
Iniciei a leitura de “Memória das minhas putas tristes”, de Gabo.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
1) “Canto Geral”, Pablo Neruda
2) “D.Quixote de la Mancha”, Cervantes
3) “Livro do desassosego”, Bernardo Soares
4) “Odisseia”, Homero (trad. Frederico Lourenço)
5) “Cem anos de solidão”, Gabriel Garcia Marques

sábado, abril 16, 2005


Ciconia Ciconia

Classe: Aves
Ordem: Ciconiformes
Nome Científico: Ciconia Ciconia
Nome comum: Cegonha Branca


Alimentação
A alimentação da Cegonha branca é muito variado. Baseia-se especialmente em pequenos animais que são capturados vivos. Inclui insectos, vermes e pequenos vertebrados ( mamíferos, peixes, repteis e anfíbios ). Para além disso, as Cegonhas recorrem também com alguma frequência a desperdícios gerados pelo Homem e que são obtidos em lixeiras. O alimento é procurado em terrenos abertos ou em zonas de água pouco profunda, caminhando ou correndo com o bico apontado para o chão. As cegonhas brancas associam-se também com frequência a máquinas agrícolas, capturando os pequenos animais que estas afugentam. Localização dos ninhos : As Cegonhas brancas podem instalar os seus ninhos em árvores, falésias e num vasto leque de estruturas artificiais ( telhados, chaminés, postes de electricidade ). Podem criar isoladamente ou formar colónias, por vezes em associação com outras espécies de aves nomeadamente garças.

Reprodução
A época de reprodução estende-se de meados de Março a princípios de Abril.
As paradas nupciais são bastante elaboradas. O comportamento mais característico consiste em bater ruidosamente com o bico inclinando a cabeça para trás.
Esta acção é efectuada pelos dois sexos e ocorre quando as aves estão pousadas no ninho. Estes são defendidos de forma bastante aguerrida contra potenciais rivais.
O ninho é uma estrutura bastante grande composta por ramos entrelaçados e é utilizado em anos sucessivos. Na sua construção participam ambos os membros do casal. O trabalho é começado pelo primeiro a regressar na primavera, normalmente o macho, podendo ficar pronto em apenas 8 dias.
As cegonhas brancas fazem só uma postura anual, composta normalmente por 3 a 5 ovos, raramente de 1 a 7. O período de incubação dura de 29-30 dias. As crias são protegidas e alimentadas pelos pais, encontrando-se a voar ao fim de 2 meses.
A Cegonha branca em Portugal : É sobretudo uma espécie de ocorrência estival no nosso País, passando o Inverno no continente Africano. Apesar disso, muitas delas podem permanecer entre nós ao longo de todo o ano, especialmente no sul. As aves estivais começam a regressar de África em finais de Novembro e começam a partir em meados de Julho. As Cegonhas brancas podem considerar-se relativamente comuns em Portugal. No entanto, nem sempre foi assim. Até meados dos anos 80 a espécie passou por um período durante o qual a sua população diminuiu bastante. Actualmente pode dizer-se que estamos a assistir a uma fase de recuperação. Em 1994, a população Portuguesa foi estimada em 3302 casais a maior parte dos quais localizados na metade Sul do País.
Como já foi referido, um número aparentemente crescente de indivíduos passa o Inverno em Portugal. Para além das aves locais, a população invernante inclui também aves procedentes do resto da Europa. De acordo com informação obtida em 1997, a população invernante é composta por cerca de 1700 aves que se distribuem sobretudo pelos distritos de Faro e de Setúbal.

Estatuto de conservação e factores de ameaça
No nosso País a Cegonha branca é tradicionalmente respeitada e acarinhada pelas populações. Apesar disso, ocasionalmente ainda se verificam alguns casos de aves abatidas. A principal causa de mortalidade em Portugal deverá ser no entanto a electrocução em linhas de média e alta tensão. A contaminação com pesticidas, especialmente em zonas de arrozal, e o derrube de ninhos poderão constituir ameaças potenciais.

O que fazer para ajudar a Cegonha branca ?
Ajudar a Cegonha branca é uma tarefa que está ao alcance de todos nós. Vejamos algumas das coisas que podem ser feitas nesse sentido:
A sensibilização das pessoas que estão à nossa volta para a importância de conservar as cegonhas é um acto relativamente simples e que pode ser feito no dia a dia.
Por vezes pode ser preciso derrubar ninhos para construir estradas ou por qualquer outro motivo. Sempre que esse problema se colocar, deverá ser solicitada uma autorização ao Instituto de Conservação da Natureza. Este, mediante o parecer dos seus técnicos especializados, decidirá se tal é possível e, em caso afirmativo, qual a melhor altura para o fazer e quais as contrapartidas necessárias para não prejudicar a espécie.
Convém recordar que o derrube não autorizado dos ninhos de cegonha é um crime.
Em alguns locais, a instalação de estruturas artificiais que facilitem a instalação dos ninhos pode ser um óptimo incentivo para a fixação das cegonhas.

sexta-feira, abril 08, 2005

A Liturgia do Sócrates

No próximo ano lectivo as escolas vão mudar profundamente, segundo o nosso primeiro ministro.
Os meninos do 1º Ciclo do Ensino Básico terão iniciação à língua inglesa. No princípio seriam todos, mas recuou-se e passarão a ser apenas cerca de 1000 escolas. Não sabemos quais.
Os alunos não mais terão tempos lectivos sem a presença de um docente. Não se sabe como será, já que a afirmação pública garantiu a racionalização dos recursos já existentes.
Tudo isto relembra-me bastante o estilo público de Durão Barroso: primeiro falava para os jornais, os assessores analisavam as sondagens e depois, talvez, se legislaria alguma coisa.
Estaremos a voltar a esta liturgia populista gasta e estafada?
Há quantos anos andam as escolas a oferecer iniciação à língua inglesa, iniciação musical, educação física? Há quantos anos andam os gestores das escolas a estudar a forma de ocupar os alunos durante as ausências de professores? Há quanto tempo existem clubes e ofertas de enriquecimento curricular em quase todas as escolas do país, mesmo aquelas que o populismo não visita com as câmaras atrás?
O esquecimento dá sempre jeito nestes momentos.

As escolas são sempre arredadas das decisões fulcrais. Aposta-se muito nos rankings jornalísticos e abandona-se o controlo da qualidade do ensino. Prometem-se panaceias como exames e logo se recua porque isso pode ter maus resultados em ano de eleições.
Os professores serão obrigados ao cumprimento das suas 35 horas semanais. Isso será um facto consumado, e duvido de que alguém até se importe muito com isso. Mesmo sem condições, longe da família, com as prestações do carro e do computador a honrar, os professores cumprirão o seu dever. Mesmo com a opinião pública a morder-lhes as canelas, mesmo com alguns pais a cuspir-lhes na cara – para bom exemplo dos filhos -, os professores cumprirão o seu dever. Se há maus profissionais na educação? E haverá alguma profissão sem maus exemplares? Só que essas profissões são mais respeitadas que a dos professores.

Há tempos atrás o respeitado António Barreto lançou alguns anátemas sobre a educação em Portugal. Se houve muito investimento na educação, acredite, senhor ex-deputado e ex-ministro, que esse investimento deve ter ficado em grande parte pelas mãos de muita gente, pois não chegou às escolas. As escolas continuaram a sobreviver com orçamentos mínimos, a gerar receitas próprias para fazer face a algumas melhorias. Os recursos humanos, em qualquer organização, absorvem a maior parte das verbas. Nada de novo aí. Mas não entraram mais professores para o sistema. Os actuais não foram alvo de reciclagens sistemáticas. Os vencimentos foram congelados. As escolas continuaram com dificuldades. Inventaram-se agrupamentos verticais sem que ninguém perguntasse como se iriam resolver os problemas do funcionamento dos Jardins e das escolas do 1º Ciclo. Em alguns concelhos as autarquias assumiram o dever de cuidar desse problema. Na maioria dos concelhos, as escolas “primárias” passaram de mal a pior. Os órgãos de gestão foram obrigados a resolver novos e maiores problemas com o mesmo orçamento anterior. As escolas com necessidade de intervenções de conservação continuaram com essas necessidades.
O investimento nas TIC resumiu-se a enviar uns computadores relativamente novos para as escolas e a exigir que as escolas fizessem salas novas com 3 tostões. Isto não é investimento. É despesa.
Esperemos que esta nova liturgia possa dar lugar ao bom senso e ao sério estudo dos problemas, com as pessoas que vivem e sofrem esses problemas. De outro modo continuaremos na senda do populismo dos telejornais das 20 horas.

quinta-feira, março 31, 2005

O Evangelho do Sofrimento




Segundo informação do Vaticano, o Papa está a entrar numa nova fase do seu sofrimento. Com a introdução de uma sonda para poder ser alimentado, e na sequência de uma infecção urinária, o seu estado de saúde tem vindo a declinar em cada minuto.
Muitos analistas consideram que seria mais correcto que o Papa tivesse abdicado e deixasse o caminho livre para a eleição de um novo Sumo Pontífice.
A atitude de João Paulo II mostra ao mundo inteiro o valor do sofrimento e a integridade da vida humana em todas as suas fases, por mais dolorosas e estranhas que sejam aos olhos dos jovens e saudáveis deste mundo.
Quem o tem visto, declara que vislumbra uma mente brilhante e viva por detrás de uma máscara de sofrimento, vêem um homem que ama a vida acima de todas as dores e alguém que conseguiu resistir a uma morte anunciada.
Em 1984, o Papa polaco escrevia que “o sofrimento humano evoca a compaixão, mas também evoca o respeito, evoca a vida”. Em 1994 ele afirma que “o Papa tem que sofrer para que cada família e o mundo possam sentir que existe um Evangelho do sofrimento, com o qual devemos preparar o futuro”.
O Papa sempre sentiu o mundo em que viveu, sempre soube compreender os mistérios da história e, em muitos momentos, conseguiu antecipar e até provocar alguns dos mais marcantes acontecimentos mundiais. Não esqueçamos que nunca outro Papa foi tão mediático, tão peregrino pelo mundo, tão seguido, ouvido, criticado, alvo de tentativas de assassinato, tão doente, tão amado, tão odiado, tão exigente. Pela primeira vez na história da Igreja contemporânea, um Papa assumiu os erros do passado, abriu alguns dos arquivos secretos do Vaticano, entregou ao mundo os segredos de Fátima, alterou o Direito Canónico, reformou o Vaticano, confrontou o mundo com os seus erros.
Este seu Evangelho do Sofrimento, assumido de forma completa é um exemplo para o mundo em que se idolatram os modelos de beleza, perfeição, saúde e alegria e se escondem os idosos, os doentes, os defeituosos. É um grito lancinante para que o mundo ouça com mais atenção.
O homem que surgiu à janela na manhã de Páscoa, para quem o acto de respirar era conseguido com sofrimento e dor, é o Papa de um mundo em transição. Se João XXIII nos deixou o Concílio Vaticano II, Karol Wojtyla deixa-nos o Evangelho da Dor. Se a Gaudium et Spes alertou o mundo para a esperança e para a alegria do mundo, a vida de João Paulo II é uma encíclica de amor à vida.

domingo, março 27, 2005

Da Praça

Já muito bits andaram pelos servidores a tratar das obras da Murtosa.
Depois de ler alguns desses posts e de ver as obras na minha terra e de ouvir alguns dos “habitantes” da praça – que não são conselheiros da Câmara Municipal -, chego a algumas conclusões pessoais:
A Praça de Pardelhas ficará mais interessante sob o ponto de vista estético;
A Praça de Pardelhas ficará mais humanizada e com menos viaturas a obstruir os transeuntes;
A Praça de Pardelhas é um kitsch;

Eu explico:
Quem chega a Pardelhas – e nunca a viu antes- conclui que está numa praça moderna e com preocupações de reviver uma estética do passado. Nisso, o Gabinete Técnico da CMM foi feliz. O aspecto geral da arrumação dos passeios, a recuperação dos pisos e dos lancis em pedra granítica, o ordenamento do trânsito, a marcação de estacionamentos, a calçada portuguesa, tudo são marcas de preocupação urbana. Parabéns.

Mas receio que Pardelhas não passe de um kitsch, pois está deslocalizada num todo que é um caos completo. Claro que se tem que começar por algum lado, mas os planos de pormenor da Murtosa têm sido uma amálgama de ideias soltas e sem um plano definido que possa ser seguido ao longo dos anos, de modo a poder ser executado de forma faseada e de acordo com as disponibilidades do orçamento. Cada executivo tem uma ideia interessante e cada um tenta fazer um pouco dessa ideia. Só isso. Fica apenas o kitsch. Não fica um trabalho sistemático e duradouro.

O actual executivo, mercê da sua estabilidade, capacidade técnica, prospectiva e possibilidade de definir planos a longo prazo, poderia conseguir esse desiderato. Espero que ainda o faça. A história os julgará por mais esse erro. Será bem mais significativo que sonhar com eco-museus lacustres.

Os comerciantes gritam que a alteração da Praça acabou com o comércio. Creio que seja uma afirmação inconsequente. Em todas as urbes as zonas pedonais puras são as que mais clientes conseguem atrair. Há vários locais para deixar as viaturas de forma calma e tranquila e poder-se tomar um café, comprar o jornal ou ir ao banco. Somos comodistas por natureza e queremos sempre ter o carrito perto de nós.

Lamento que os Táxis tenham tido uma tão grande preocupação no pensamento dos designers da Praça. É o tal kitsch, ou a preocupação de ceder a pressões saloias. Estragaram o que poderia ter sido uma intervenção genial.
Jamais um táxi teve tanta preponderância numa “aldeia”. Ficaram com um protagonismo que nem na cidade mais cosmopolita conseguem.

Teremos uma praça de táxis no lugar da Sala de Estar do Concelho. É pena.

sexta-feira, março 25, 2005

Adenda

Entrando em vigor, amanhã mesmo, o novo Código da Estrada, o governo regulamentou alguns dos seus aspectos que copio do site respectivo:

1. O Decreto-Lei que mantém nas Câmaras Municipais a competência para proceder ao registo e emissão do competente título para os ciclomotores, motociclos de cilindrada não superior a 50 cm3 e veículos agrícolas;
2. Decreto regulamentar que fixa as normas gerais de utilização e segurança das zonas e parques de estacionamento e procede à regulamentação da sua utilização por certas categorias de veículos;
3. Decreto regulamentar que define as regras de utilização especial das vias públicas, nomeadamente, para efeito da realização de actividades carácter desportivo, festivo e outras que possam afectar o trânsito normal.
A presente regulamentação, a que se juntam as relevantes Portarias, permite dar exequibilidade às recentes alterações do Código da Estrada, aprovado pelo Governo anterior e cuja entrada em vigor está prevista para o próximo Sábado, dia 26.

sexta-feira, março 04, 2005

Informação

Esta informação está no site da Câmara Municipal de Estarreja...

O DL nº 44/2005, de 23 de Fevereiro, alterou o Código da Estrada aprovado pelo DL nº 114/94, de 3 de Maio, com as modificações que lhe foram posteriormente introduzidas. O novo diploma entra em vigor 30 dias após a sua publicação. Nos termos da legislação anterior, competia às Câmaras Municipais a emissão das licenças de condução de ciclomotores, de motociclos de cilindrada não superior a 50 cm3 e de veículos agrícolas, bem como a matrícula e o seu cancelamento relativamente aos mesmos veículos. Com as mudanças agora introduzidas as Câmaras Municipais deixam de ter responsabilidades a tal nível passando a competir à Direcção Geral de Viação - DGV a emissão das licenças de condução, a matrícula dos veículos a motor e o cancelamento das matrículas. Salienta-se que os proprietários de ciclomotores e de motociclos, triciclos ou quadriciclos de cilindrada não superior a 50cm3 matriculados nas Câmaras Municipais devem, no prazo de três anos, proceder à troca do documento camarário de identificação do veículo junto da Direcção Geral de Aveiro. No mesmo prazo e local devem os titulares de licenças de condução dos veículos acima referidos proceder também à troca daqueles títulos por outros emitidos pela DGV.

DGV no distrito de Aveiro
Morada: Estrada Cidadela de Aveiro nº 33 - 3800 Esgueira - Aveiro
Telefone: 234 30 21 90
Fax: 234 31 63 58