terça-feira, setembro 27, 2005

Lectio Brevis

O ano lectivo lá vai decorrendo com saltos e sustos e muita gritaria. Voam objectos de ausência dos mais diversos tipos, desde atestados médicos, consultas em ambulatório, filhos com vírus, pais idosos, creches com horários, centros de dia com horários, viagens com atrasos. Tudo serve para desculpar a ausência.

Os horários-semanários dos docentes contêm algumas novidades, desde tempos para substituir os que nos atiram os objectos de ausência, a tempos para reforço das aprendizagens obtidas nas aulas e a clubes para ocupação e enriquecimento dos alunos.

Ninguém os quer… os alunos detestam as substituições… os pais querem os meninos do 1º ciclo em casa o mais cedo possível… os professores sentem-se “coisas” nessas actividades.

Esta gestão autonómica que nos foi oferecida pelo Ministério veio cheia de veneno. Os professores rejeitam o presente e espezinham-no. Os alunos não o desejam.

A armadilha está lançada e todos caiem nela. Os alunos provam que não querem aprender nem reforçar essas aprendizagens. Muitos pais não desejam que os filhos tenham mais tempo na escola, pois os filhos dizem que não querem. Os professores alegram-se pois provam que a opção/imposição do ministério é indesejada por todos.

Daqui a alguns meses o Ministério irá mostrar que estamos muito enganados, pois ir-nos-á esfregar na cara os resultados dos diversos exames… e então iremos perceber que as vítimas são os alunos e os carrascos os professores.

Solução?

As escolas DEVEM escolher os seus professores e depois prestar contas e assumir as consequências. Acabem com os quadros de escola e os de zona pedagógica. Assumamos a docência como profissão e não como emprego seguro.

Senhores Secretários de Estado: contratos de autonomia para as escolas. Já!

sexta-feira, setembro 16, 2005

O futuro (ainda) pode ser hoje

Talvez soframos da síndrome da “galinha da minha vizinha”. Não duvido disso.
Todos achamos que os outros têm mais e melhor que nós. Todos ambicionamos o que os outros têm e sempre menosprezamos o que é nosso.
Menosprezamos as nossas carreiras, as nossas conquistas, as nossas competências e as nossas capacidades. Diminuímo-nos perante todos os outros e achamos que somos sempre injustiçados em relação ao resto do mundo.

Este fenómeno aparece em todas as profissões e carreiras: os médicos da aldeia invejam as carreiras dos especialistas dos grandes consultórios da cidade; os professores universitários invejam as carreiras e o dinheiro dos professores estrangeiros; os autarcas das vilas mais pequenas apelidam os das cidades de “safados”; os professores do ensino básico e secundário invejam os arquitectos e engenheiros independentes; e assim sucessivamente.

Temos uma cultura da inveja, diz-nos José Gil, no seu ensaio “Portugal hoje: o medo de existir”.

Reparemos neste arranque de ano lectivo.
Não me interessa se as bases programáticas foram lançadas pelo Professor Eduardo Marçal Grilo, ou se o foram pelo Santana Lopes ou pela equipa do José Sócrates. O facto é que este ano lectivo arrancou há muitos meses atrás, aquando do concurso para provimento dos quadros das escolas e das zonas pedagógicas, em Janeiro. E arrancou sem soluços. Os concursos decorreram muito bem, muito embora os lugares vagos sejam cada vez menos, resultado da demografia e não das políticas educativas.

Passados alguns meses, teve lugar o concurso para as necessidades cíclicas, e o processo decorreu novamente com normalidade e sem reclamações ou erros grosseiros.

A única novidade de monta foi a de lembrar aos docentes que o seu horário de trabalho era igual ao da maioria dos portugueses. Trinta e cinco horas. Algo que todos sabiam havia muitos e muitos anos, mas que todos reduziam aos tempos lectivos, subtraindo as funções que se-lhe pudessem somar para reduzir a permanência na escola. Aluno irrita.

Este governo legislou no sentido de corrigir algumas assimetrias laborais.
Podemos acusá-lo de continuar a colocar os amigos e dependentes em lugares bem remunerados, ou em funções estranhas para o comum do cidadão. Podemos acusá-lo de tudo o que desejarmos, pois ele tem-se “posto a jeito”. Mas tem a virtude de chamar algumas das coisas pelo respectivo nome.

Nem todas as escolas terão as condições necessárias para o completo cumprimento dos prolongamentos de horários ou para que alguns professores possam permanecer muito tempo em funções não lectivas nesses espaços degradados. Mas isso não pode ser um facto para impedir – ab se – que o universo das escolas não possam aplicar os normativos que já existem há mais de 4 governos (em Portugal já vamos contando por Governos… até a assembleia da república tem dificuldade em contar as suas legislaturas…).

Se numa metrópole os pais investem muito nos filhos, oferecendo-lhes toda uma panóplia de apoios curriculares, actividades de enriquecimento cultural, desportivo e social, o facto é que a esmagadora maioria dos alunos deste país sofre de tentações de abandono escolar, não vê a necessidade de prosseguimento de estudos, têm pais que os incentivam a abandonar a escola e raramente se aproximam da escola para colher informações dos seus filhos.

Para esses, a escola e os professores têm que ser TUDO. Para esses, todas as horas são poucas. Para esses todos os professores têm que ser excelentes mestres e têm que estar muito presentes nas suas vidas.

Ofende a minha profissão e o meu conceito de carreira ouvir lamentações de alguns professores que se queixam do aumento de horas na escola ou que dirimem se essas horas a mais são para os alunos ou para o polimento das cadeiras das salas de professores. Ofende-me que tentem desvirtuar uma boa ideia e que tentem roubar aos alunos algumas das horas que eles bem precisam e merecem.

Não duvido da incompetência da nossa ministra e seus secretários e a sua completa ignorância do terreno em que as escolas vivem o seu dia-a-dia. Eles nunca foram professores… foram sempre doutores ou funcionários dos respectivos partidos. Eles partirão para novos voos e para funções mais altas logo que possível. Eles não souberam definir os horários das escolas, pois eles nem sabem o que isso seja. Eles não deram indicações aos órgãos de gestão, pois eles nunca estiveram num órgão de gestão. Eles gerem ex-cathedra aquilo que nunca conhecerão. Maior despotismo iluminado nunca houve em terras da rainha D.Maria.

Porém, têm uma virtude interessante: mostraram-nos os nossos erros. Os seus berros e exaltações nas reuniões públicas com os órgãos de gestão mostraram aquilo que milhares de pessoas pensam de nós: somos incapazes. Temos sido incapazes de assumir a nossa profissão, de a professar. Temos sido incapazes de defender os nossos alunos e de aumentar a qualidade do nosso ensino. Temos estado numa letargia pavorosa sempre à espera de soluções “deus ex machina” para o ensino. Temos estado sempre ansiosos à procura de um bode expiatória para safar a nossa pele.

Se os professores acordarem com estes abanões e perceberem que têm o mundo na mão… não serão precisas greves ou manifestações. Não precisaremos de sindicatos ou de ministros. Temos os alunos. Temos o futuro de Portugal nas nossas mãos. O Sócrates tem apenas o orçamento, o nosso tempo de serviço. Coisas limitadas no tempo. Os professores têm o futuro. Só nós podemos moldar esse futuro.

E disso, acreditem, o Sócartes vai roer-se todo de inveja.

Da campanha

Depois do meu penúltimo post, a edilidade "deliberou" conceder um subsídio de 4000 euros à EBI da Torreira para pagamento das despesas de funcionamento do ano lectivo 2004/2005 de 12 turmas do Pré-Escolar e 1º Ciclo do Ensino Básico.

(Mais que isso custa a limpeza dos 3 gabinetes e WC do 1º andar da CMM...)

Autarcoblogs

É interessante ir lendo as guerras entre o Alberto Souto e os elementos do Bloco de Esquerda em Aveiro.
São momentos de alguma boa disposição... no mínimo. Pelo menos fica a certeza de que Alberto Souto tem medo que se tolhe todo com o Bloco. Quer dizer: quem escreve os textos do Alberto Souto, claro...

Por Estarreja vão aparecendo uns laivos de movimentação internet.

Na Murtosa... bom... "only the dead and the dying in my little town"... diria Paul Simon.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Mais um ano. Que seja óptimo!

Eis-nos a iniciar um novo ciclo na EBI da Torreira!
Mais um ano lectivo que se inicia, com a eterna problemática dos professores que chegam pela primeira vez a esta escola.
Pelo 5º ano lectivo, consecutivo, estamos a reiniciar a instalação da escola… Nada ficou dos projectos do ano anterior. O Projecto Educativo continua a ser criado, já que em cada ano sofre algumas alterações ligeiras, mas nunca se pode dizer que vai ser executado quando se sabe que no ano seguinte não sobra qualquer professor para lhe dar continuidade.
Às tantas, a ideia de Projecto Educativo até nem deve passar disso mesmo: uma ideia… devo ser eu que me preocupo a mais com isso.
A rotatividade do corpo docente até tem os seus aspectos positivos: novos actores, novas ideias, novas abordagens, novos projectos para cumprir. Fica a impotência de não podermos fixar os professores que querem ficar e que deveriam ficar pelo menos um ciclo completo.
Paciência.
Temo terrivelmente a “autarquização” do ensino básico!
A minha escola, sendo uma Escola Básica Integrada, sofre desse mal. O ensino Pré-Escolar e o Primeiro Ciclo do Ensino Básico, com larga fatia de responsabilidade da autarquia nas suas despesas de funcionamento, já teriam sido encerrados se estivessem dependentes desse apoio.
O ano lectivo de 2004/2005 já terminou e está em arquivo morto, e a EBI da Torreira ainda não recebeu um cêntimo para as despesas de funcionamento desses níveis de ensino.
Vale-nos o Orçamento do 2º e 3º ciclos e a imaginação dos professores, pais e alunos para a geração de algumas receitas.
Até a água! Regámos o jardim – que é público – e a autarquia ameaça-nos com o corte de água se não pagarmos a conta do mês passado. Ora toma…
Seria justo encerramos o Pré-Escolar e o 1º CEB até que nos paguem o que nos devem?
O problema é que temos vergonha e não estamos em campanha… Por isso, manteremos tudo a funcionar em pleno. Nem que tenhamos de pedir de porta em porta uma ajuda aos amigos da escola. Se nos cortarem a água, pediremos aos Bombeiros um tanque para dar banho aos alunos que necessitem.
Tudo se há-de resolver.
Pode parecer piada, mas é facto.
As escolas mendigam o que lhes é devido. Sempre assim foi.
Alguns políticos prometem, reúnem-se com quem querem e prometem. Pedem contas e relatórios e prometem. Garantem as promessas e depois afirmam que não há enquadramento legal ou há orientações da AMNP, ou há necessidade de orçamentos rectificativos ou é melhor esperar pelo orçamento seguinte, ou só podem atribuir as verbas em questão por subsídio e isso carece de autorizações de assembleias, ou não há delegação de competência para a assinatura, ou milhentas outras coisas, cuidando que os seus “alvarás” lhes conferem maior importância que aqueles que lhes estendem a mão a pedir ajuda para educar 400 crianças.
As escolas não são apenas edifícios com janelas de alumínio lacado, recentes. São pessoas, são salas para limpar, são alunos para banhar, roupas para lavar, refeições para fornecer, livros para comparticipar, tecnologias para desenvolver, máquinas para manter, electricidade, água e gás para pagar. Coisas simples. Coisas para as quais não se necessita de “alvará” para serem compreendidas.
Coisas da vida de quem vive e tem amor aos que delas vivem.