quarta-feira, agosto 04, 2004

Silly Season

Vivemos tempos interessantes.

A ministra da educação disse que o ano lectivo irá começar a 16 de Setembro, mesmo que as escolas só tenham metade dos docentes indispensáveis... mesmo estando a decorrer o período de reclamações e de colocações em horários supervenientes... mesmo que os alunos andem de sala em sala à procura do professor que não existe...
As escolas (mesmo com metade dos professores, ou nem isso) irão providenciar actividades de ocupação dos alunos e actividades de apresentação e de reconhecimento da escola.

Sinceramente, adorei... tenho que organizar visitas à escola, sem professores (no meu caso) e tenho que “desenrascar-me” com essa dificuldade. Será que devo promover umas “canções de roda”... ou será melhor promover uma sessão de desportos radicais... ou, melhor ainda, umas palestras sobre prevenção com uma sessão de evacuação da escola, com a ajuda dos bombeiros... sou um génio!

O que interessa para a minha ministra e para os mentecaptos dos sindicalistas que com ela se sentaram é que as crianças estejam dentro dos portões para que a estatística bata certa e para que os pais possam despejar os filhos na escola e ir sossegados à sua vida de construção deste país.

Estou edificado.

A escola, para a minha ministra, é um armazém de recolha de gente. Com portões bem fechados e controlados. E com pais sossegados.

Depois, em Junho/Julho, teremos exames nacionais do 9º ano e do 12º ano. E teremos os resultados que temos.
Com professores desmotivados não podemos ter alunos motivados.
Estaremos a construir um país estranho com alunos assim preparados e com mestre assim tão mal tratados.
Todos temos um secreto fetiche de bater em quem está de rastos e os professores são sempre uns belos bombos de festa.
Há mais de 20 anos que andamos nesta vida de bombos fáceis.
Desde o brilhante Couto dos Santos e sus muchachos que temos andado a ser desprezados e malquistos por toda a estrutura governativa, sem qualquer vislumbre de luz ao fundo da 5 de Outubro.

Agora vamos ter uma secretaria de estado da educação em Aveiro (se arranjarem casa), de cor azulinha profunda e que irá produzir pensamento de acordo com a cor que terá.

Se isso é populismo? Sei lá. Nem me interessa por aí além.

O facto é que a minha dignidade profissional anda a ser gozada por toda a gente... e isso dói-me muito.

Demasiado.