quarta-feira, agosto 03, 2005

Só se morre quando se é esquecido




Digam o que disserem os diversos sistemas religiosos, a mente humana não aceita pacificamente o desaparecimento físico de alguém a quem se esteve ligado. Revoltamo-nos com a insensibilidade da morte e buscamos justificações para tão violento e desumano momento. Sofre-se interiormente um choque inexplicável e busca-se compreender, tenta-se acusar algo ou alguém, fechamos os olhos rezando que tudo não passe de um erro apenas. Fica-se com a frieza do facto e a solidão da lembrança.

O António Porfírio Nunes de Almeida – Rubirosa para os amigos e conhecidos – deixou-nos. Espantosamente partiu sem se despedir de ninguém. Deixou amigos plantados à sua espera no caminho. Olha-se o horizonte em busca dele e ele não surge.

Quem o conhece sabe quem ele é e conhece-lhe o jeito de ser. Relembram-se os momentos partilhados com ele e com a sua alegria contagiante.
Lembram-se as peças de teatro, as cantigas, os bailaricos, as piadas. Lembra-se a disponibilidade do Porfírio e a sua incapacidade para dizer “não” aos amigos. Por isso mesmo é maior ainda o espanto e a dor desta partida inoportuna, sem dizer “até já, amigos!”. Faltou essa palavra de amigo. Espera-se por ela.

O Porfírio marcou a Murtosa porque cresceu com ela. Nunca lhe virou as costas e ajuda-a a crescer ao longo dos anos. Encontramo-lo na génese de alguns dos momentos que marcaram esta terra, desde os Bombeiros, o PSD, a Igreja de Pardelhas, o Salão Paroquial de Pardelhas, lado a lado com outros tantos murtoseiros disponíveis, alguns dos quais também partiram sem dizer adeus aos amigos.

Vimo-lo a acompanhar a Santa Casa nas suas festas, defendendo o nascimento do Hospital, o crescimento do Lar de Idosos, acompanhando o dia a dia desta Instituição, servindo na Mesa da Assembleia Geral dos Irmãos. Sempre disponível. Sempre sorridente, mesmo quando a sua vida sofria momentos amargos, sem nunca virar as costas aos seus amigos de sempre.

Só se morre quando se é esquecido.
Porfírio, ganhaste um lugar na memória de muitos.
Jamais morrerás.