Eis-nos chegados a mais um fim de ano lectivo.
Foi um ano, a todos os títulos, excepcional:
- pelos professores que estiveram na escola;- pelas constantes alterações legislativas que foram sendo produzidas pela tutela;- pelas novidades introduzidas no dia a dia dos professores, alunos e pessoal não docente;- pela quantidade e falta de qualidade das reuniões a que tivemos que assistir;
Mas, apesar de tudo isto, o ano terminou.Os docentes que este ano viveram na EBI da Torreira assumiram a escola como uma unidade orgânica, viva, com quem estabeleceram uma relação muito saudável. Houve uma ou outra excepção, mas até esses foram percebendo a dinâmica que estava a ser criada e foram-se adaptando, ou pelo menos disfarçando. A esmagadora maioria percebeu logo nos primeiros dias que uma escola nunca depende das vontades de uma ou de outra ministra nem das palavras de ordem de este ou daquele sindicato, e soube criar um ambiente de família entre si. Souberam trabalhar com os alunos e conseguiram que o currículo fosse cumprido.
Uma avaliação é sempre subjectiva.
Há 5 anos que observo esta escola e nela vivo. Concluo que há professores que lhe fazem falta mas que nunca mais regressam. São sempre os que mais a vivem e a ela dedicam parte da sua vida e do seu sossego. Vivem sob a espada do contrato a termo certo e partem com a mochila ao ombro, acenando com as lágrimas que querem esconder. Raramente regressam. Os alunos perguntam por eles. Espreitam a sala dos professores para ver se eles regressaram entretanto. Mas em vão.
Há muitos outros professores que, de igual modo, também se dedicam a tempo inteiro a estes alunos carentes e exigentes. Regressam e vão criando “escola”, vão afirmando uma cultura própria que se espera venha a dar frutos. Nem sempre são compreendidos pelos pais. Acusam-nos de excesso de exigência, de arrogância ou, pelo contrário, de nada saberem ensinar. Ou seja: se a criança levar uma positiva, o professor é atinado... se apanhar uma negativa, o professor não presta. Já estamos habituados. E ainda há quem sonhe em tê-los numa hipótese de avaliação do trabalho docente...
Foi um ano de muitas alegrias. As exigências do ministério passaram completamente ao lado da Torreira. Nem lhes sentimos as dores que todos lhe berravam nas avenidas. Não sentimos nem lhe ligámos pois essas exigências chegaram à Torreira com um atraso de 4 anos. Só isso. Há 4 anos que andávamos a trabalhar no esquema que a Lurdes descobriu nas gavetas do Marçalo Grilo. A diferença é que a Lurdes exige que tenhamos menos professores a trabalhar. Coisas de “gaja”, dirão os alunos. Concordo.
Andámos por Coimbra, Viseu, Coimbra, Viseu, Aveiro, Coimbra... uma peregrinação de desatinos secretariais sem tino. Coisas de “gaja” e dos seus “gajos”... tipo ciganos. Tudo espremido, dava uma página A4 de rabiscos. E muitos euros em ajudas de custo e deslocações... para quem tanto quer poupar, olhem que é obra! Tanto quilómetro para nada melhorar na educação que tantos querem mudar.
Os exames nacionais do ensino básico vão provando que as “aulas de substiuição” não ajudaram em nada ao sucesso dos alunos. Bom... mas isto é outra conversa para as longas noites de inverno.
Por hoje, rendo a minha homenagem aos “meus” professores e ao “meu” pessoal não docente que souberam elevar-se da confusão e, por entre greves e contestações que ignoraram, souberam o que era o mais importante, assumindo-se como excelentes profissionais que sempre serão.
Fica a minha homenagem e a esperança amiga de vos voltar a receber às portas da “nossa” escola.