quarta-feira, janeiro 12, 2005

Da Santa Casa da Misericórdia da Murtosa (1)

A Santa Casa da Misericórdia da Murtosa tem abraçado novos projectos de intervenção comunitária na esperança de conseguir oferecer algumas respostas às solicitações que todos os dias lhe chegam.
O LEME, inserido no POEFDS, é um desses projectos socializantes que a Santa Casa patrocina com entusiasmo e esperança.
Temos a clara consciência de que não iremos mudar a Murtosa nem tão pouco solucionar os problemas das pessoas com quem trabalhamos, mas temos a esperança de semear alguns grãos de novidade nas famílias que nos procuram.
A Murtosa vive tempos estranhos. Tempos de falta de solidariedade, de isolamento social, de algum egoísmo. Falta criar nos Murtoseiros a antiga amizade solidária para os bons e maus momentos da vida. Falta dar a conhecer a importância da ajuda mútua. Falta educar para a solidariedade.
Não somos uma terra de elites, mas sofremos com a mentalidade que algumas elites teimam em espalhar: vivemos de costas voltadas para a dor do próximo. Esta dor consubstancia-se em isolamento, abandono, ignorância, falta de respeito, falta de educação básica, falta de regras de higiene e segurança, falta de civismo, falta de formação especializada, pobreza de meios e de pensamento.
Por vezes temos a tentação de esquecer e de tentar apagar em vez de intervir e de agir. Aplaudimos quando outros intervêm, mas somos meros espectadores passivos. Gritamos quando esses problemas se aproximam de nós e exigimos medidas... aos outros. Preferimos a ignorância à acção.
Há quem viva e morra sem nunca ter feito um acto de solidariedade, convencido que viveu uma vida normal.

Em Aveiro, uma vez, disseram-me que os Murtoseiros comiam na gaveta... não percebi o que queriam dizer. Explicaram-me que os Murtoseiros eram conhecidos pela sua faceta de egoístas e tinham o prato da comida na gaveta para o poderem esconder se algum entrasse em casa nesse momento, para não terem que oferecer comida a quem chegasse.
Será verdade? Será apenas maledicência dos cagaréus?
Queremos alertar os mais novos para estes problemas do isolamento e do abandono social em que muitos de nós vivemos. Mesmo os mais abastados por vezes vivem sós e carentes de convívio.
Queremos que a Murtosa renasça e se renove no espírito de amizade, apoio e solidariedade. Depende de mim e de ti este esforço. Que cada família saiba abrir as suas portas àqueles que precisam.
Nem que seja apenas um sorriso. Por vezes isso basta para começar um mundo novo.

sábado, janeiro 08, 2005

2004 - o ano dos blogues

«Antes, os blogues eram uma curiosidade, um fenómeno de culto, um ‘hobby’, como coleccionar selos. Mas em 2004 os blogues ascenderam inesperadamente ao panteão dos grandes ‘media’ emparelhando com a televisão, a rádio e, sim, a imprensa escrita.» Esta frase de Lev Grossman, o editor da «Time» que redigiu o texto da primeira escolha daquela revista para «Blog of the Year», vai tornar-se uma referência tão importante quanto a definição do termo «blog» incluída oficialmente nos principais dicionários da língua inglesa em 2003 («Oxford English», Grã-Bretanha) e 2004 («Merriam-Webster», EUA). Isto porque, defeitos à parte, a «Time» continua a manter um tremendo prestígio que confere à suas escolhas um tom ditatorial.
in "Expresso"

terça-feira, janeiro 04, 2005

O Pedro

Apesar de o/a Gaivota Saltitante me acusar de ser do contra, não posso deixar de escrevinhar estas linhas a propósito do Blog do glorioso 190.

Publicam a foto do “Pedro”, um dos raros casos sérios de escutismo da Murtosa. Sério, porque o Pedro sempre viveu e sofreu o escutismo, e ama cada momento em que veste a farda. A sua disponibilidade deveria merecer rasgados elogios de quem do escutismo tem feito modo de vida.

Não será o melhor e o mais sábio dos escuteiros, mas foi sempre, para mim, uma figura muito querida do movimento escutista. Ele simboliza o que de mais puro e inocente haverá no escutismo. Apesar da idade, o Pedro ainda é criança e sente o escutismo como uma mística inefável a seguir ao longo da vida. Mesmo nos momentos mais tristes da vida do Pedro, ele sempre considerou o escutismo como um refrigério para as suas dores e dúvidas.

Se o 190 mereceu (e merece) a medalha de ouro do município, o Pedro merece uma parte dessa medalha pois, ao longo dos 75 anos do Agrupamento, o Pedro marcou presença em boa parte deles e viu muitas gerações a entrar e a sair do Agrupamento sem que isso pusesse em causa as suas crenças.

Serão crenças simples. Mas, Baden Powell nunca imaginou o escutismo como uma escola de elites, mas uma base de partilha e de camaradagem aliada a conhecimentos técnicos e ao amor pela natureza. Isso o Pedro sempre soube compreender e praticar. Com simplicidade. Servindo, algumas vezes, de bode expiatório para os erros de outros mais capazes. Mas, e por isso mesmo, tem sido sempre o melhor dos escuteiros.

Está o 190 de parabéns por todos estes anos de bom e efectivo trabalho em favor dos jovens.
Está o 190 de parabéns por ter ressuscitado um fantástico grupo de “velhas guardas” que sempre honraram o escutismo em todas as suas vertentes e que, agora, ainda têm muitíssimo para dar e construir.

Não desistam. Nunca.
Aceitem uma canhota de um velho caminheiro.
Sempre a servir.