A Santa Casa da Misericórdia da Murtosa tem abraçado novos projectos de intervenção comunitária na esperança de conseguir oferecer algumas respostas às solicitações que todos os dias lhe chegam.
O LEME, inserido no POEFDS, é um desses projectos socializantes que a Santa Casa patrocina com entusiasmo e esperança.
Temos a clara consciência de que não iremos mudar a Murtosa nem tão pouco solucionar os problemas das pessoas com quem trabalhamos, mas temos a esperança de semear alguns grãos de novidade nas famílias que nos procuram.
A Murtosa vive tempos estranhos. Tempos de falta de solidariedade, de isolamento social, de algum egoísmo. Falta criar nos Murtoseiros a antiga amizade solidária para os bons e maus momentos da vida. Falta dar a conhecer a importância da ajuda mútua. Falta educar para a solidariedade.
Não somos uma terra de elites, mas sofremos com a mentalidade que algumas elites teimam em espalhar: vivemos de costas voltadas para a dor do próximo. Esta dor consubstancia-se em isolamento, abandono, ignorância, falta de respeito, falta de educação básica, falta de regras de higiene e segurança, falta de civismo, falta de formação especializada, pobreza de meios e de pensamento.
Por vezes temos a tentação de esquecer e de tentar apagar em vez de intervir e de agir. Aplaudimos quando outros intervêm, mas somos meros espectadores passivos. Gritamos quando esses problemas se aproximam de nós e exigimos medidas... aos outros. Preferimos a ignorância à acção.
Há quem viva e morra sem nunca ter feito um acto de solidariedade, convencido que viveu uma vida normal.
Em Aveiro, uma vez, disseram-me que os Murtoseiros comiam na gaveta... não percebi o que queriam dizer. Explicaram-me que os Murtoseiros eram conhecidos pela sua faceta de egoístas e tinham o prato da comida na gaveta para o poderem esconder se algum entrasse em casa nesse momento, para não terem que oferecer comida a quem chegasse.
Será verdade? Será apenas maledicência dos cagaréus?
Queremos alertar os mais novos para estes problemas do isolamento e do abandono social em que muitos de nós vivemos. Mesmo os mais abastados por vezes vivem sós e carentes de convívio.
Queremos que a Murtosa renasça e se renove no espírito de amizade, apoio e solidariedade. Depende de mim e de ti este esforço. Que cada família saiba abrir as suas portas àqueles que precisam.
Nem que seja apenas um sorriso. Por vezes isso basta para começar um mundo novo.