quinta-feira, maio 27, 2004

A uma mãe que sonhou...

Sonhaste uma vida melhor para o teu filho.
Desejaste-lhe as maiores venturas.
Viste-o crescer ao lado de outros meninos menos pobres e sentiste-te filha de deuses injustos.
Escondeste as tuas lágrimas de revolta para que ninguém te acusasse de hipocrisia.
Nunca deixaste que o teu filho se sentisse menos que os seus amigos e tudo fizeste para que ele fosse um cidadão igual aos outros.
Lutaste contra um destino amargo e avaro.
Enfrentaste os dias da fome, transformando as migalhas em pão repartido.
Arregaçaste as mangas e procuraste soluções sem mendigares esmolas.
Lembro a festa de aniversário dele... não quiseste que ele se sentisse diferente dos outros meninos e apareceram os saquinhos dos doces para os amigos. Tal como os amigos fazem. Com pais menos pobres.

Ceifaram-te os sonhos, Fátima Chipelo.
Roubaram-nos uma criança.
Assassinaram uma esperança.
Não esqueceremos.
Não calaremos.
A solidariedade talvez seja uma palavra gasta de tanta hipocrisia submissa... de todos nós.