terça-feira, junho 22, 2004

... o pequeno virou grande...

O título deste post foi emprestado pelo André Belo e vem a propósito do casamento do meu filho mais novo, o Fernando, mais conhecido pelo "Nini".
Para todos os casamentos dos meus filhos fiz um jornalito para expressar alguns sentimentos que afligem os pais nesses momentos... este terá sido o último de uma série.



(foto @Nelson da Silva)

Aqui fica o texto central:

Eis-nos na 3ª edição deste jornalinho de família.
A história já vem registando aspectos interessantes desta família: 2 casamentos, 2 nascimentos, mudança de casa da família. Tanta coisa em tão pouco tempo!
Em ano de EXPO fizemos o casamento do Marco e da Paula Regina; logo depois, na véspera de novo milénio festejámos a união da Paula e do Nuno. Foi com dor e mágoa que vi partir a minha mãe. Raramente falo dela. Ficou a saudade de tudo o que poderia ter sido dito e feito entre eu e ela ao longo da vida e que não se cumpriu. O tempo, não o podemos parar ou repetir. Ele flúi, por vezes dolorosamente. Aprendi que mais importante que acusar é amar. Vou tentando fazer isso na minha vida. Nem sempre bem...
Já no novo século nascem dois netos maravilhosos que, instantaneamente, se transformaram no centro de todos os cuidados e paixões. Com eles vamos percebendo o que é o amor dos avós: o amor que se dá sem pedir nada em troca, sem exigências. E recebemos sempre muito mais do que damos.

A nossa vida tem sido isso mesmo: uma sequência de acontecimentos que nos têm marcado profundamente. Dizia eu, num dos jornais anteriores, que os pais sentem-se felizes por poderem olhar para trás e ver que o caminho percorrido foi bom e que o seu papel foi importante para que este momento acontecesse. Não é que nos sintamos mais velhos, mas sentimos que ultrapassámos uma fase na vida... daquelas fases em que pensamos que ficamos mais pobres, mais sós, mais fragilizados perante o início de novas esperanças dos outros. Pensamos que as nossas esperanças são menos legítimas que as deles. Mas não o creio assim. Esperamos de forma nova e diferente, uma esperança ainda mais espectante que quando estavam para nascer, pois agora é que vão ser postas à prova algumas das opções que tomámos na educação dos filhos.
O tempo tem-me mostrado que a maior parte das opções tomadas estavam certas.
Porém, o importante hoje é festejar o casamento do nosso Fernando e da nossa Anabela. Festejemos, pois!
O que tenho percebido deles é que se entendem bastante bem. São comedidos na sua expansão pública – digo eu -, mas dão os sinais certos. Por vezes é no silêncio que as uniões eternas se forjam e, nisso, parece que ambos foram feitos um para o outro. Fiquei espantado quando me apercebi que a relação deles estava a ultrapassar a mera curiosidade mútua. Espantado por ver o meu filho mais novo a assumir uma série de preocupações que nunca tinha tido em tão grande dose. Espantado por ver que a criança estava a virar homem. Agradavelmente espantado, diga-se.
Sempre encarei o Fernando como a criança sorridente que entrou na minha vida e a ocupou desde muito cedo. O mais novo dos irmãos, o mais carente de carinho e amor. O que mais depressa sentiu necessidade de mim. O que me assumiu como pai desde o primeiro momento.
A relação destes dois foi sempre muito curiosa: nunca me pareceu que tivesse havido ruído ou confusão. Foram amadurecendo e fortificando os laços que os uniam e, sem se aperceberem, os nós desses laços eram tão desejados e amados que nenhum conseguia estar bem sem o outro.

Eu e a Dulce chegámos a mais uma das encruzilhadas da nossa vida. Mais um filho parte em busca do seu próprio destino, unido à Anabela. Já vimos o Marco partir de mão dada com a Paula Regina. Despedimo-nos da Paula e do Nuno. Em cada partida sentimo-nos mais fortes e unidos. Todos.
Cada casal tem que percorrer o seu caminho e fazer as suas escolhas. Não podem esperar que sejam outros a fazê-las nem podem adiar decisões que podem moldar uma vida. Nunca mais serão dois. Serão sempre um, numa união inexplicável e desejada, unidos a muitos outros que fazem parte de outro todo que é a família. Semeamos vidas, modos de encarar a vida. Tocamos as pessoas na esperança de tocar nessas vidas. Esperamos que os frutos sejam agradáveis. Esperamos contra toda a lógica.

Aqui e agora, de mãos dadas, de lágrimas nos olhos mas com os nossos corações a transbordar de alegria e júbilo, lançamos sobre os nossos filhos a bênção da felicidade e tornamos público um segredo guardado há milénios: em caso de dúvida, de desânimo, de desilusão, de zanga grave... não atireis a primeira pedra. Façam uma retrospectiva honesta da vossa vida. Procurai as raízes que vos trouxeram aqui hoje. Pesem bem a pedra que tendes na mão para atirar. Olhai fundo nos olhos um do outro. E deixareis cair a pedra.