No próximo ano lectivo as escolas vão mudar profundamente, segundo o nosso primeiro ministro.
Os meninos do 1º Ciclo do Ensino Básico terão iniciação à língua inglesa. No princípio seriam todos, mas recuou-se e passarão a ser apenas cerca de 1000 escolas. Não sabemos quais.
Os alunos não mais terão tempos lectivos sem a presença de um docente. Não se sabe como será, já que a afirmação pública garantiu a racionalização dos recursos já existentes.
Tudo isto relembra-me bastante o estilo público de Durão Barroso: primeiro falava para os jornais, os assessores analisavam as sondagens e depois, talvez, se legislaria alguma coisa.
Estaremos a voltar a esta liturgia populista gasta e estafada?
Há quantos anos andam as escolas a oferecer iniciação à língua inglesa, iniciação musical, educação física? Há quantos anos andam os gestores das escolas a estudar a forma de ocupar os alunos durante as ausências de professores? Há quanto tempo existem clubes e ofertas de enriquecimento curricular em quase todas as escolas do país, mesmo aquelas que o populismo não visita com as câmaras atrás?
O esquecimento dá sempre jeito nestes momentos.
As escolas são sempre arredadas das decisões fulcrais. Aposta-se muito nos rankings jornalísticos e abandona-se o controlo da qualidade do ensino. Prometem-se panaceias como exames e logo se recua porque isso pode ter maus resultados em ano de eleições.
Os professores serão obrigados ao cumprimento das suas 35 horas semanais. Isso será um facto consumado, e duvido de que alguém até se importe muito com isso. Mesmo sem condições, longe da família, com as prestações do carro e do computador a honrar, os professores cumprirão o seu dever. Mesmo com a opinião pública a morder-lhes as canelas, mesmo com alguns pais a cuspir-lhes na cara – para bom exemplo dos filhos -, os professores cumprirão o seu dever. Se há maus profissionais na educação? E haverá alguma profissão sem maus exemplares? Só que essas profissões são mais respeitadas que a dos professores.
Há tempos atrás o respeitado António Barreto lançou alguns anátemas sobre a educação em Portugal. Se houve muito investimento na educação, acredite, senhor ex-deputado e ex-ministro, que esse investimento deve ter ficado em grande parte pelas mãos de muita gente, pois não chegou às escolas. As escolas continuaram a sobreviver com orçamentos mínimos, a gerar receitas próprias para fazer face a algumas melhorias. Os recursos humanos, em qualquer organização, absorvem a maior parte das verbas. Nada de novo aí. Mas não entraram mais professores para o sistema. Os actuais não foram alvo de reciclagens sistemáticas. Os vencimentos foram congelados. As escolas continuaram com dificuldades. Inventaram-se agrupamentos verticais sem que ninguém perguntasse como se iriam resolver os problemas do funcionamento dos Jardins e das escolas do 1º Ciclo. Em alguns concelhos as autarquias assumiram o dever de cuidar desse problema. Na maioria dos concelhos, as escolas “primárias” passaram de mal a pior. Os órgãos de gestão foram obrigados a resolver novos e maiores problemas com o mesmo orçamento anterior. As escolas com necessidade de intervenções de conservação continuaram com essas necessidades.
O investimento nas TIC resumiu-se a enviar uns computadores relativamente novos para as escolas e a exigir que as escolas fizessem salas novas com 3 tostões. Isto não é investimento. É despesa.
Esperemos que esta nova liturgia possa dar lugar ao bom senso e ao sério estudo dos problemas, com as pessoas que vivem e sofrem esses problemas. De outro modo continuaremos na senda do populismo dos telejornais das 20 horas.