quinta-feira, março 31, 2005

O Evangelho do Sofrimento




Segundo informação do Vaticano, o Papa está a entrar numa nova fase do seu sofrimento. Com a introdução de uma sonda para poder ser alimentado, e na sequência de uma infecção urinária, o seu estado de saúde tem vindo a declinar em cada minuto.
Muitos analistas consideram que seria mais correcto que o Papa tivesse abdicado e deixasse o caminho livre para a eleição de um novo Sumo Pontífice.
A atitude de João Paulo II mostra ao mundo inteiro o valor do sofrimento e a integridade da vida humana em todas as suas fases, por mais dolorosas e estranhas que sejam aos olhos dos jovens e saudáveis deste mundo.
Quem o tem visto, declara que vislumbra uma mente brilhante e viva por detrás de uma máscara de sofrimento, vêem um homem que ama a vida acima de todas as dores e alguém que conseguiu resistir a uma morte anunciada.
Em 1984, o Papa polaco escrevia que “o sofrimento humano evoca a compaixão, mas também evoca o respeito, evoca a vida”. Em 1994 ele afirma que “o Papa tem que sofrer para que cada família e o mundo possam sentir que existe um Evangelho do sofrimento, com o qual devemos preparar o futuro”.
O Papa sempre sentiu o mundo em que viveu, sempre soube compreender os mistérios da história e, em muitos momentos, conseguiu antecipar e até provocar alguns dos mais marcantes acontecimentos mundiais. Não esqueçamos que nunca outro Papa foi tão mediático, tão peregrino pelo mundo, tão seguido, ouvido, criticado, alvo de tentativas de assassinato, tão doente, tão amado, tão odiado, tão exigente. Pela primeira vez na história da Igreja contemporânea, um Papa assumiu os erros do passado, abriu alguns dos arquivos secretos do Vaticano, entregou ao mundo os segredos de Fátima, alterou o Direito Canónico, reformou o Vaticano, confrontou o mundo com os seus erros.
Este seu Evangelho do Sofrimento, assumido de forma completa é um exemplo para o mundo em que se idolatram os modelos de beleza, perfeição, saúde e alegria e se escondem os idosos, os doentes, os defeituosos. É um grito lancinante para que o mundo ouça com mais atenção.
O homem que surgiu à janela na manhã de Páscoa, para quem o acto de respirar era conseguido com sofrimento e dor, é o Papa de um mundo em transição. Se João XXIII nos deixou o Concílio Vaticano II, Karol Wojtyla deixa-nos o Evangelho da Dor. Se a Gaudium et Spes alertou o mundo para a esperança e para a alegria do mundo, a vida de João Paulo II é uma encíclica de amor à vida.