terça-feira, setembro 21, 2004

Compta aí novidades...

Não há ninguém que não tenha emitido opinião sobre o problema da colocação dos professores. Todos os órgãos de informação andam à espreita do cadáver da ministra, os sindicatos exigem-lhe a cabeça, os pais gritam pela inteligência dos filhos, os senhorios angustiam-se com as casas por alugar aos professores deslocados, os professores andam a morder os lábios e a chorar para dentro.
Em Portugal é assim mesmo. Todos têm uma colher para meter na educação e todos têm uma faquita afiadita para espetar no professor à primeira curva mais escura da vida.
O problema dos concursos resolve-se facilmente... bastava que a ministra tivesse tido a coragem de desmantelar o que estava e avançar para uma solução de compromisso por um ano lectivo (que é o que irá fazer agora)... de seguida entregava tudo ao gabinete jurídico e cortava a direito. Mas... a Compta do Couto dos Santos e do Rui Machete já tinha a maior parte do dinheiro no bolso e os accionistas andavam felizes a trocar os papéis da empresa na Bolsa que, meses antes, estava muito mal. Os mesmos que daqui a dias vão gritar que a educação é um caos em Portugal.
E a Maria do Carmo andava convencida de que um Ministério era o mesmo que o seu gabinete na Católica: novinho em folha, arrumadinho e abençoado.
Mas a realidade é outra.
Todos os ministérios são monstros administrativos que se têm replicado ao longo de gerações, tal como a TAP, a RTP, etc. Os cortes ferem interesses muito antigos e que têm todos os ministérios altamente armadilhados.
Conheci um senhor que foi parar a uma das direcções gerais do Ministério da Educação na 24 de Julho e, para ter a certeza de que os seus ofícios conseguiam sair para o correio, vinha pessoalmente meter as cartitas no CTT mais próximo.
Não serão os gritos e os jornais que irão alterar o estado de coisas.
Não são os professores que emperram o sistema.
Tenho uma escola sob a minha responsabilidade e devo confessar que os meus colegas têm tido uma postura de alta dignidade, mantendo os alunos na escola, mesmo sabendo que não irão ficar com eles para o ano todo, mas têm feito tudo para que haja sossego e paz dentro da escola e para que os pais não fiquem sem saber o que fazer com os filhos.
Daqui a meses, pais, jornais, novos ministros, rankings, e opinion makers, irão dizer que o pior do mundo são os professores.
Querem um conselho?
Educai os vossos filhos.
Ensinai-lhes o valor do respeito e da delicadeza. Ensinai-lhes a importância da vida em sociedade.
Antes de bater nos professores, venham à escola e vejam os vossos filhos lá. Como eles são lá. Ou será que a vossa memória curta já vos fez esquecer o tempo que andaram pelas escolas?
Dizia a minha avó: “quanto mais porca, mais gritará por limpeza”.