terça-feira, maio 03, 2005

Não mata, mas cansa...

“- Por favor venha à minha sala que está lá um menino que não quer sair e que já me ameaçou e tudo.”
Foi assim que fui convocado a deslocar-me a uma sala onde um ganapo de 11 anos fazia frente a uma professora licenciada, profissionalizada e com idade para ser mãe do miúdo.
Que mal fiz eu a Deus ou ao mundo para ter que aturar disto?
Quem forma os professores e os profissionaliza de modo a não terem uma única gota de autoridade?
Quem se apelida de “professor” e logo de seguida teme utilizar a autoridade? Estranho mundo o nosso.
Circula nos sindicatos e por entre professores a teoria de que a legislação portuguesa não permite o exercício da autoridade pelos professores.
Honestamente, alguém que me explique o que se espera da legislação para que um docente tenha ou não tenha autoridade dentro da sua sala de aula.
Será que um pedaço de papel irá obviar à falta de autoridade da minha colega perante o tal garoto de 11 anos?
Será que eu tenho um papel a mais que ela? O facto é que mal me viu, o puto meteu o rabo entre as pernas e foi o mais ordeiro do dia… Mas eu não tenho nenhuma lei diferente daquela que rege a profissão da senhora que me mandou chamar à sua sala.
Não percebo.
Circula na imprensa o facto de que o ministério da educação não consegue controlar as faltas dos seus docentes.
O primeiro ministro veio, urbi e orbi, proclamar que no próximo ano lectivo acabar-se-ão os “furos” dos alunos.
Alguém que me explique como.
Alguém que me explique como é que há professores que passam a vida em congressos, encontros, reuniões de editoras, doenças estranhas, faltas por conta de férias, acções de formação em horário lectivo, reuniões sindicais, ausências inesperadas. E nenhum desses docentes acha isso anormal. Como é que há docentes que afirmam não poder estar numa reunião de conselho de turma porque têm que ir ao médico com alguém da família, ou que já tinham planeado outra coisa para essa data, ou prevêem estar “de atestado médico” nessa altura…?
Não são os “PROFESSORES” que têm este comportamento, são os que distorcem a profissão e que a assumem como uma fonte de rendimento a somar a outras fontes paralelas.
Senhor Primeiro Ministro em estado de graça e com maioria absoluta no parlamento: crie legislação que outorgue aos Órgãos de Gestão da escolas poderes para despedir professores que não são professores, que permita contratar professores que queiram e saibam ser professores e que saibam exercer a “auctoritas” de forma responsável e que saibam ensinar e formar, permitindo a estabilidade das escolas e a melhoria da qualidade do ensino. De outra forma, o ensino continuará a arrastar-se de desculpa em desculpa e os bons professores deixarão de ter incentivo para continuar a melhorar.