Com o aparecimento e crescimento dos blogs (uma tecnologia fantasticamente democrática, quer permite que qualquer noviço informático possa editar, publicar e disseminar informação, opinião e contestação), assistimos a uma alteração profunda na relação da política com os seus cidadãos, dos governados para com os governantes.
Bastará investir algumas horas de cada fim-de-semana para se perceber que a movimentação criada em torno das eleições autárquicas não terminou ou esmoreceu. Os vencedores desligaram a sua actividade blog, mas os vencidos intensificaram-na e passaram a utilizar o blog como forma de oposição pública e constante. O blog assumiu um papel de contacto directo e constante com os munícipes.
Nasceu o maior pesadelo de todos os tempos para os eleitos locais. Cada acto público ou menos público é passível de ser imediatamente difundido em sistema de broadcast público, sem qualquer pejo ou atraso. Basta um computador ligado à net. Sem censura possível. Sem legislação que trave o ímpeto oposicionista de qualquer cidadão mais implicado. Sem hipótese de se rebaterem as afirmações de forma convincente ou em sede protegida.
O fórum político saiu das salas e dos gabinetes e passou para os ecrãs dos computadores. Daqui pode passar para os telemóveis e os cafés podem transformar-se em locais de grandes conspirações e de trocas de ideias. A juventude poderá intervir na vida da sua comunidade como nunca lhe foi possível. A sua voz pode ser lida e ouvida. Os alicerces da sociedade podem tremer se não estiverem sãos.
Procurem-se os blogs da oposição em Aveiro, Porto, Coimbra, Lisboa, Mangualde, Viseu e veremos argumentos que devem tolher de terror os eleitos locais. Daqui em diante veremos muitos argumentos a serem dirimidos nos blogs e nem tanto nas Assembleias. Veremos temas a serem testados nos bytes antes de surgirem nas Actas de reuniões. Leremos acusações. Espantar-nos-emos com denúncias imediatas e com explicitações que se desejavam secretas.
É um novo exercício de cidadania. Será uma nova forma se de estar na “polis”. Os véus cairão e a política poderá renovar-se se souber utilizar este meio de forma responsável e correcta. Sem populismos serôdios e sem secretismos paroquiais. Sem difamações covardes. Aqui se distinguirão os blogs construtivos e responsáveis daqueles que apenas pretendem atirar lama a paredes limpas. A comunidade poderá crescer e amadurecer se souber utilizar este recurso como forma de apropriação de poder partilhado e de indicador social. Bastará que o poder saiba ler o que aparecer escrito nas águas do dia a dia.
Será um pesadelo para muitos e uma libertação para alguns.