"Filho és, pai serás. Como vês, assim farás."
Todos conhecemos este ditado popular. E, o pior, é que andamos a sofrê-lo em cada dia que passa. Cada vez mais.
Os problemas da adolescência agudizam-se com os problemas preexistentes de falta de educação, diálogo, entendimento e aproximação que vão caracterizando alguns pais modernos. Com a eterna e esfarrapada desculpa de não estarem sintonizados com os tempos modernos ou com o grave problema de falta de escolarização de uns e outros, a Murtosa vê aumentar o número de crianças que em casa nada têm que lhes crie a noção de "lar".
Este vazio afectivo cria crianças carentes de carinho e atenções. Leva-as a assumir atitudes de confronto com uma sociedade em que elas reencontram e reconhecem os mesmos problemas que têm em casa. Deixa-as frustradas numa escola que lhes dá pouca atenção individualizada e especializada.
Procuram, por isso, todas as soluções em todos os sítios.
A Santa Casa tem estado atenta a estas questões e ficamos sempre com a sensação de que alguns pais deixam de investir nos adolescentes. Todos se preocupam imenso com os bebés e com as crianças até aos 11 anos. Daí em diante, o tempo cuidará deles e a escola é o grande armazém de recolha e guarda dos adolescentes e jovens. Os pais ignoram o que os filhos fazem na escola, nos "furos", nos tempos livres, nas tardes sem horários.
Alguns adolescentes e jovens ocupam boa parte do tempo livre em diversas actividades, desde desportos, aprendizagem formal de conhecimentos musicais, frequência de piscinas e aulas de dança e ballet. Sendo actividades de enriquecimento pessoal, são desejáveis e os pais investem nelas com grande empenho e alegria.
Mas nós não estamos a falar desses adolescentes.
Falamos dos outros. Falamos dos que não têm dos pais o investimento necessário, quer por dificuldades financeiras, desinteresse, pais separados ou que não assumem a respectiva paternidade. Falamos da Murtosa numa totalidade que nos aflige todos os dias; numa terra onde muitos equipamentos faltam e que sobejam em terras vizinhas. Se repararem nas respostas dos pais a um questionário que está nas páginas deste boletim, vereis que todos sublinham a falta de uma piscina. Sublinham a falta de actividades concertadas e diversificadas que possam dar resposta a adolescentes e jovens sem rumo para os seus tempos livres.
Talvez esteja chegado o tempo em que os "pais" SEJAM mais pais, mais cidadãos empenhados em mudar o que está imperfeito e ajudar a implementar novas soluções. Não basta apontar erros e defeitos; importa assumir soluções e imprimir qualidade a uma terra que há demasiado tempo confia apenas nos outros.
Importa que os pais mostrem aos filhos novas maneiras de serem pais, para que, amanhã, os filhos sejam melhores pais de novos filhos com novas e melhores perspectivas de futuro.