Inserido nas actividades do Projecto Leme (POEFDS), a equipa técnica deste projecto está a promover uma série de tertúlias com o objectivo de permitir que as pessoas estabeleçam pontes de diálogo umas com as outras, atirando vários temas para a mesa do debate, num ambiente informal e calmo, sem protagonistas ou protocolos.
Na sexta-feira passada, tal como o Januário já sublinhou, houve “Há hora marcada”, com o tema de “Associativismo e colectividades”, tendo reunido no salão de espectáculos da Junta de Freguesia do Bunheiro um conjunto de pessoas ligadas a diversas associações e movimentos que existem na Murtosa.
Do debate, inteligentemente moderado pelo Dr. António Amador (o Clara), não nasceu nenhuma luz ofuscante, nem é esse o objectivo destas tertúlias. O que o moderador soube bem fazer foi promover as pessoas interessadas em conversar. Várias gerações de gente que dá o seu tempo, gratuitamente, a várias iniciativas sociais na Murtosa. Uns com mais experiência e bem conhecedores das dificuldades em renovar as associações e outros mais românticos, com ideais fantásticos e positivos. Todos, a conversar, a várias vozes, mas em sintonia de objectivos.
Como tive oportunidade de referir, o que interessa é falar sobre os assuntos. É isso que mais falta se faz sentir na Murtosa. Interessa promover os mais novos, dando-lhes espaços para se expressarem e darem a conhecer as suas ideias, as suas capacidades, os seus interesses.
As associações serão os lugares onde as pessoas se juntam, porque lá encontram pontos comuns unificadores. Mesmo que esses encontros pouco tenham a ver com a ideia fundadora da associação ou colectividade.
O renovar-se em cada dia foi o assunto mais explanado por todos: as dificuldades em captar novos e dinâmicos associados, o trazer de volta os antigos frequentadores dos espaços, a revitalização dos objectivos que levaram à criação da colectividade, a renovação dos órgãos sociais ao fim de alguns mandatos. Todas estas preocupações atravessaram as palavras das pessoas que foram falando. Falaram mais que o esperado. Falaram sem olhar para o relógio e sem ter pressa em sair. Falaram como quem descobre que, afinal, os outros querem saber o que eu sinto pela minha colectividade. Falaram como quem partilha um segredo que deve ser de todos.
Foi um passo. Mais um passo no longo caminho do diálogo de gerações. Interessa criar esse gosto, esse hábito de partilhar ideias e palavras à volta de mesas informais. Vimos que as pessoas sentem necessidade de serem ouvidas, de fazerem ouvir a sua voz, de serem contestadas por outros, de dar passos atrás em algumas das suas convicções. O monólogo mata a criatividade e deixa que a insatisfação cresça e alastre a todo um povo.
Entrei com esperanças pequenas, saí com alegria por saber que a noite não foi desperdiçada para ninguém.