Ao sacudir as moscas que o apoquentavam, sampaio tornou-se num rei das moscas num pequeno reino. Sacudindo estas moscas, abriu as portas a outras larvas ansiosas por serem moscas grandes.
É este o nosso grande dilema: que repasto seremos para tantas moscas parasitas? Sempre que se aproximam momentos eleitorais, há uma série de fantasmas que vão saindo dos seus armários para dar cobertura às moscas mais recentes: os tripulantes mortos contra uma parede de camarate periodicamente saem de seus túmulos e erram pela nossa memória colectiva em macabra procissão forçada. Muitos envergam as opas da oportunidade e vão arrastando lentos passos com semblantes pesados.
Outros gritam pela liberdade que sempre defenderam e pela qual iam sendo martirizados nos idos dos antes-de-abris. Todos sabem de tudo. Raramente se enganam, pois. Encomendam-se novos enxames a especialistas que se sentam nas suas bancas em pose de sábios ascéticos. As moscas, regressadas das fartas mesas europeias, contentam-se em satisfazer as exigências das novas rainhas para evitar o desaparecimento prematuro. Outras moscas, também regressadas, mas não queridas, contentam-se em zunir em torno de orelhas moucas.
Todos garantem resultados. As novas larvas metamorfosear-se-ão em novas moscas, pujantes, alegres, coligadas entre si.
Nós... bem, nós lá teremos que as andar a enxotar novamente...
Sampaio, sentado no seu trono de rei das moscas, lá se vai abanando para evitar que elas lhe tirem o sossego, tal qual o mais humilde dos seus súbditos. No fundo, também ele aspira à paz e ao sossego, longe das moscas. De todas as moscas... mas, até lá, tem que continuar a representar o seu papel de rei... das moscas. Que maçada...